domingo, julho 11, 2004

 

Desejo Mimético


Jung Mo Sung é professor da USP/SP. É dele o texto "Desejo mimético, exclusão social e cristianismo".
Vou tentar resumir o que o professor diz neste texto. Para o professor, face ao enorme contraste entre pobreza e riqueza, seria normal se ouvir como solução um apelo à distribuição de renda. Tal reivindicação seria uma das características principais do discurso social presente no programa econômico da CNBB, por exemplo. Tal justificativa para o apelo se encontra no predomínio do modelo econômico voltado para acumulação de riquezas, em detrimento de um modelo voltado para a superação da pobreza.
Segundo Jung Mo Sung, a resolução dos problemas sociais passa pela questão da "Necessidade versus Desejo". Necessidade seria o necessário para uma vida digna, um limite entre "ter de mais" e "ter de menos". Teorias econômicas liberais e neoliberais seriam pensadas, então, em termos de satisfação dos desejos, em detrimento das necessidades. Com o fim das "necessidades", teríamos um homem de "desejos".
A imitação de padrões de consumo de países ricos acentuaria o dualismo social, e o progresso tecnológico causaria ainda uma maior concentração de renda e aumento dos níveis de exclusão, segundo o professor.
Assim, o desejo é trabalhado, moldado, transformado num "desejo mimético", cuja estrutura básica consistiria num desejar um objeto não pelo objeto em si, mas pelo fato de que outro deseja. Mimético: imitação. Dessa maneira, a insatisfação dos desejos insatisfeitos gera rivalidades e corrida ao consumo, sendo necessário a criação de novos objetos de desejo, que acelerariam e reiniciariam o processo.
A manutenção e perpetuação do modelo vigente seria garantida: através da esperança de todos em verem seus desejos realizados; no fato de que os desejos miméticos não serem reprimidos, e sim incentivados, sendo o sentimento de culpa pelo fracasso internalizado pelos pobres; e finalmente, através do mito dos "sacrifícios necessários" ao progresso, utilizado em momentos de crise do sistema.
Ainda segundo o professor, o processo de secularização eliminou ou deslocou o sagrado para o mercado, com as religiões deixando de ser o fundamento da ordem social. Além disso, a transformação das necessidades em desejos se daria através da doutrinação da propaganda, que cria novos objetos de desejo, utilizados como condições para se pertencer a algum grupo social.

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Muito interessante mesmo o ensaio/artigo do professor Jung.
Traz algumas idéias novas, que contribuem com novos olhares sobre problemas como exclusão, distribuição de renda e sociedade. Apenas algumas idéias me parecem equivocadas e/ou distorcidas.
Na verdade, o sistema não é excludente porque nem todos conseguem realizar seus desejos; ao contrário, nem todos conseguem realizar seus desejos porque o sistema é excludente. Essa sim seria a premissa básica do sistema.
A questão do desejo mimético é muito próxima de uma análise que pode ser feita sobre o arcabouço psicológico do capitalismo: ambição, egoísmo e inveja.
O desejo mimético seria um de seus pilares, uma das estruturas do sistema, e não uma novidade em si. Desde que o mundo é mundo e o homem desceu das árvores (ou foi criado por Deus, como queiram), o homem deixou de ser apenas um ser de necessidades. Somos mais do que instinto. O desejo é algo inerente ao ser humano. Desejávamos as melhores cavernas, as melhores caças, os melhores sítios... apenas nosso objeto de desejo foi se sofisticando e diversificando com o tempo, mas somos sim seres incompletos e desejar faz parte de nossa natureza (assim como nossas necessidades, nossos instintos).
Não vou nem me aprofundar na questão da ética protestante versus os valores católicos, por demais polêmica, mas que traz a tona maneiras diferentes e contraditórias de ver o mundo.
Uma solução sugerida no texto seria tirar de quem tem para dar a quem não tem. Isso assusta, principalmente nos dias de hoje. Não faz mais sentido nenhum, a não ser para os partidários do PSTU.
Não dá para ficar condenando eternamente quem tem alguma coisa à fogueira. O problema não é alguns terem. O problema é proporcionar aos outros a chance real de terem também.


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