segunda-feira, novembro 29, 2004

 

Para que estudar Geografia?


Outro dia, um aluno me perguntou: "Professor, porquê estudar Geografia"?
Claro, não deixei o aluno sem resposta, e desfiei um rosário de 1001 bons motivos para se estudar Geografia. Agora já sei o que dizer. Peguei o link aqui no Alexandre, vejam a resposta dela para essa pergunta. Perfeita.

"Conhecimento é o que distingue o sábio do homem medíocre. Nada mais.

Aprender, o que quer que seja – História, Matemática, Biologia -, nos torna pessoas melhores. Saber nunca é demais e nunca é suficiente. Isso, é claro, na minha concepção.

O ensino da História cria cidadãos mais conscientes e politizados, capazes de atuar com mais lucidez na sociedade. Que pessoa não muda sua forma de ver as coisas ao estudar os grandes movimentos da humanidade, como a Revolução Francesa ou o Imperialismo?

Saber História é essencial para compreendermos o mundo em que vivemos. Afinal, tudo que vemos diariamente nos jornais está vinculado a acontecimentos passados. Não ter conhecimento de História é ser alienado, é ver a vida passar, sem participar dela.

Infelizmente, para algumas pessoas, a ignorância não é um problema. Conseguem viver completamente alheios ao que acontece a sua volta. Para os que pensam assim, o ensino da História realmente não tem a menor importância.

Aprender História só é determinante para aqueles que querem sair do estado de latência social. Para aqueles que pretendem participar ativamente da sociedade. Para aqueles que consideram a alienação um problema.
"

Substituam, por favor, na resposta dela, História por Geografia.

quinta-feira, novembro 25, 2004

 

Sistema eleitoral norte-americano


Voltando a falar das eleições norte-americanas...

O sistema eleitoral norte-americano é um pouco complicado de entender, mas vou tentar explicar o básico. A eleição presidencial não é direta, sendo o Presidente escolhido através de um Colégio Eleitoral, onde cada estado tem um número de delegados proporcional a sua população. Ou seja, o candidato que tiver maior número de votos populares em determinado Estado, recebe os votos de todos os delegados do eleitorais daquele Estado. Para ser Presidente, o candidato deve ter o mínimo de 270 votos no Colégio Eleitoral, de um total de 538. A Califórnia, por exemplo, tem 55 delegados, e o Texas 34. Pode acontecer, como na disputa entre Bush e Gore, do candidato mais votado popularmente não ser eleito, bastando triunfar nos estados com maior número de delegados. Cabe lembrar ainda que em alguns estados, como no Nebraska, o voto dos eleitores é dividido proporcionalmente ao resultado das urnas.

Tudo mais ou menos explicado, mas ainda não fica nisso. Graças à contribuição de um grande amigo, o também geógrafo Roberto Santiago, chegou às minhas mãos um texto de Emerson Urizzi Cervi, professor universitário do Paraná. O professor Emerson, em seu artigo, explica sobre a atualização dos limites dos distritos nos EUA, a partir da leitura do livro "Bushmanders & Bullwinkles. How Politicians Manipulate Electronic Maps and Census Data to Win Elections". O autor do livro é o também geógrafo Mark Monmonier.

Através do artigo, ficamos sabendo que a legislação norte-americana exige atualizações constantes nos mapas eleitorais, e que tais manipulações acabam favorecendo o partido político que está na Casa Branca. Por incrível que pareça, é isso mesmo. Movimentam (e manipulam) as linhas que dividem os distritos eleitorais, de modo a beneficiar determinado partido.

Nesse esquema, numa área contendo três distritos, onde em cada um há um centro urbano que concentra um número maior de eleitores, os resultados podem ser totalmente invertidos com a movimentação das linhas que dividem os distritos. Como de maneira geral os eleitores urbanos tendem a votar em candidatos democratas com mais freqüência do que em republicanos, é provável que pelo menos em dois desses distritos o representante eleito seja democrata em função da “diluição” dos votos rurais nas três áreas. Após a movimentação de suas linhas divisórias, ou redistritalização, poderíamos ter, por exemplo, os três centros urbanos ficando no mesmo distrito eleitoral, enquanto os outros dois distritos ficam apenas com eleitores rurais, beneficiando o partido republicano que agora passaria a ter dois representantes entre os três distritos eleitorais.

Esta movimentação do tamanho dos distritos até se justifica num sistema majoritário, onde é grande a mobilidade populacional, para não haver riscos de sobre-representação ou sub-representação, devido a um "esvaziamento" ou "enchimento" de eleitores em determinado distrito.
Curioso: na auto-intitulada "maior democracia" do mundo, o número de cadeiras no Congresso Eleitoral é fixo, por isso o tamanho dos distritos é variável. Na Alemanha, que também adota um sistema majoritário, os distritos são fixos, variando o número de cadeiras disputadas a cada eleição. Não parece muito mais lógico?

terça-feira, novembro 23, 2004

 

Clube do Bode Literário


Atenção, torcida! A ADEMG informa: encontram-se abertas as inscrições para o "Clube do Bode Literário" e suas filiais:

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Inscrições por tempo limitado. Aqui. Corram...

 

Utilidade Pública


Povo de Minas!...
Conclamo a todos que compareçam ao lançamento do "Crime, Sociologia e Políticas Públicas", do Guto. Aproveitem e visitem o blog também, porque vale a pena...

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O lançamento acontecerá na Quixote Livraria e Café no próximo sábado, dia 27, às 11 horas da manhã. A livraria fica na Rua Fernandes Tourinho, 274 - Savassi - Belo Horizonte - MG.

Combinado então, nos encontraremos todos lá...



domingo, novembro 21, 2004

 

Morte de Celso Furtado


Ia postar sobre outra coisa aqui, mas diante dos fatos, presto uma singela homenagem a um grande homem. Por vezes equivocado em suas suposições, jamais deixou de se manifestar sobre qualquer assunto de seu interesse e expor suas opiniões. Longe de ser uma unanimidade, era um homem de valor. Cristovam Buarque escreveu, a seu respeito, um artigo especial para o blog do Noblat:

"Recentemente, em um encontro em Alexandria, ouvi de um professor egípcio a pergunta: por que, nos anos 70, ele recebia luzes do Brasil, como de Celso Furtado, e no começo do século XXI não recebe qualquer nova idéia saída daqui? Lembrei disso ao ser informado esta manhã da morte de Celso. Ela representa um empobrecimento para a inteligência brasileira.
Poucos brasileiros deram tamanha contribuição ao pensamento mundial quanto Celso Furtado. E a grande lição para nossos professores e intelectuais é que ele não contribuiu traduzindo idéias estranhas, mas formulando as suas próprias, daqui de dentro.
Esta talvez seja a resposta que o professor egípcio queria: os intelectuais brasileiros deixaram de contribuir para o pensamento mundial, porque ficaram prisioneiros de textos importados ao se submeterem na obtenção de seus doutorados. Deixaram de pensar o Brasil pelo Brasil. Passaram no máximo a interpretar o Brasil com olhos de estrangeiros.
A segunda lembrança é de que ele formou uma geração, porque escreveu para que todos pudessem ler e com isso terminou traduzido no exterior. Os intelectuais brasileiros de hoje escrevem de maneira que só os iniciados em suas profissões entendem, porque escrevem pensando no público externo e este público não precisa ouvir aqui cópia do que eles pensam e escrevem por lá.
Celso Furtado foi um exemplo da teoria ligada ao compromisso prático da política. Isto enriqueceu seu pensamento, no lugar de aprisiona-lo, porque ele fez isso com coerência. Coisa rara em profissionais que entram na política e terminam perdendo, nos meandros do poder, a coerência intelectual.
Celso Furtado, ao morrer, deixa mais pobre a inteligência brasileira, mas deixa um país mais rico por sua obra e por tudo o que fez por nosso desenvolvimento, por sua colaboração à nossa ética e pelo exemplo de seriedade e coerência.
"

 

Domínio Público


Já está funcionando a nova página da Biblioteca Virtual de Conteúdo Livre, vinculada ao MEC (Ministério da Educação).
São inúmeras obras nacionais e internacionais, na forma de imagem, som, vídeo e texto disponíveis para download gratuito, como mapas, músicas, documentários, e claro, livros, muitos livros, de diversas áreas. Tem muita coisa traduzida, mas para quem prefere, como o Alexandre, tem muita coisa no idioma original também.

Visitem, porque vale a pena.

sexta-feira, novembro 19, 2004

 

Fundamentalistas, aonde estão?


Tem circulado pela internet uma versão muito interessante, do que seria (ou pode vir a ser) um novo mapa norte-americano. Peguei emprestado uma cópia no blog do Mauro:

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Claro, levei na brincadeira. Mas como toda brincadeira tem um fundo de verdade...

Existe algo de podre, cheirando mal, e não é no reino da Dinamarca. O Homero também tocou no assunto, ainda que trazendo uma abordagem diferente, inclusive com um trecho interessantíssimo de um artigo do Contardo Calligaris, da Folha de São Paulo do dia 04 de Novembro. Vejamos alguns trechos:

... sobretudo nos últimos dez anos, nos EUA, acontece algo diferente. No centro do país, longe das grandes áreas urbanas, concentra-se um exército de derrotados. São fazendeiros empobrecidos ou expropriados, vítimas do fim dos subsídios agrícolas ou da concentração da agroindústria. São trabalhadores desempregados, vítimas da "liberdade" globalizada dos mercados, pois as indústrias migraram para países complacentes ou importaram ilegalmente uma mão-de-obra barata e não sindicalizada. Esse exército, em grande parte, vota hoje no Partido Republicano. Ou seja, vota a favor do agravamento das mesmas políticas econômicas que produziram sua decadência. Por quê?"...

O próprio Contardo Calligaris nos responde, mais adiante:

"Votam assim porque atribuem o fim de seu mundo não às medidas econômicas que os golpearam, mas, por exemplo, à prática do aborto, à crise da família, às uniões civis entre homossexuais ou ao desrespeito pela suposta vontade de Deus. Na história recente do Ocidente, os fascismos clássicos fornecem os melhores exemplos de uma façanha comparável, pela qual os derrotados foram transformados em milícias do conservadorismo ideológico e, portanto, em cúmplices de sua própria ruína."...

Realmente, precisamos prestar mais atenção ao que acontece nos EUA, como alerta o articulista acima. E urgente. Eu mesmo já tinha abordado o assunto anteriormente aqui, a respeito desse "conservadorismo religioso" no interior dos EUA, e o tema se repete novamente blogs e outras mídias afora.
Ainda a respeito do assunto, Fernando Brant publicou um artigo no Estado de Minas do dia 10 de Novembro, onde destaca uma fala muito interessante, do ministro da Justiça do governo Bush:

..."entre as nações, os Estados Unidos são a única que compreendeu que a fonte de seu caráter não é de ordem cívica e temporal, mas de ordem divina e eterna. E, como reconhecemos que nossa fonte é eterna, os Estados Unidos se tornaram uma nação à parte. Nosso único rei é Jesus". (os grifos são meus)

Sintomático, não? A mistura entre religião e política, todos sabemos, não costuma render bons frutos, vide Irã, Afeganistão, Iraque...
Os EUA, para mim, nunca foram um país sério, por vários motivos: sistema eleitoral complicadíssimo e sujeito a manipulações, essa ode ao consumismo excessivo, essa presença ostensiva em todos os cantos do mundo, essa mania de querer controlar tudo e todos, a pose de liberal contrastando com um sem-fim de medidas protecionistas, essa mania de achar que sabem o que é bom para o mundo, e agora, esse fundamentalismo religioso que aos poucos vai se revelando.
É o país dos paradoxos. Realmente não deve ser nada fácil amar Cristo aos domingos e encarar o vale-tudo pelo dinheiro durante o restante da semana.

quarta-feira, novembro 17, 2004

 

Pérolas sobre o trabalho escravo


Poucas vezes vi um texto tão cínico.
"O trabalhador que aceita, voluntariamente, oferecer seu esforço individual em troca de comida e moradia, sem dinheiro como forma de pagamento, não pode ser considerado um escravo."
Rodrigo C. dos Santos é o nome do autor, economista formado pela PUC-RJ. Encontrei-o aqui, aliás um site bastante estranho.
As idéias estapafúrdias deste senhor não param por aí. Leiam lá, confiram o artigo na íntegra.

O autor sabe muito bem do que se trata quando fala em escravidão e trabalho escravo. Em um malabarismo verbal quase convincente, se apressa em falar de subjetividade e de como algumas pessoas, no seu entendimento, manipularam tais conceitos. A partir daí o que se lê beira o absurdo. Mistura princípios de liberdade, direitos de propriedade e escolhas voluntárias para dizer que, se o indivíduo preferir, pode ter sua força de trabalho trocada por comida e moradia. Ou seja, se o indivíduo quiser, ele pode trabalhar apenas para morar e comer!

Com certeza o sr. Rodrigo assim procede também, devendo atuar no mercado financeiro, como mostra pequena resenha a seu respeito, em troca apenas de comida e moradia.

Pimenta nos olhos dos outros é refresco, ou não é?

O que o sr. Rodrigo "parece" ter se esquecido é que raramente um desses trabalhadores, pegos sendo explorados pelos grandes latifundiários, estão ali trabalhando em troca de casa e comida porque querem. Quase sempre se encontram nestas situações ludibriados, enganados com promessas de salário, casa e comida. Acabam endividados com o patrão, com "supostas" despesas com ferramentas de trabalho e compras de mantimentos, dívidas que se tornam muitas vezes impagáveis e os obrigam a ali permanecerem. Não escolheram estar ali, como tenta nos convencer o sr. Rodrigo.

sexta-feira, novembro 12, 2004

 

A morte e a morte de Yasser Arafat


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Na madrugada de ontem, morreu Yasser Arafat, presidente da Autoridade Nacional Palestina, de falência múltipla de órgãos, depois de uma semana de boatos e desmentidos de uma suposta morte cerebral. Arafat, célebre terrorista das décadas de 70 e 80, foi o fundador do Fatah, movimento nacionalista que se tornou o núcleo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), milícia armada responsável por diversos ataques a Israel e atos terroristas mundo afora. De comportamento dúbio, acusado de enriquecimento ilícito (sua fortuna é calculada em milhões de dólares), Arafat sempre foi uma incógnita. Seus detratores o acusam de nunca querer a paz, e de ser incapaz de controlar os atos terroristas praticados pelas diversas milícias armadas que combatem Israel. Alguns israelenses, ontem, se alegraram e comemoravam a sua morte.

Na madrugada de ontem, morreu Yasser Arafat, presidente da Autoridade Nacional Palestina, de falência múltipla de órgãos, depois de uma semana de boatos e desmentidos de uma suposta morte cerebral. Arafat, que no início da década de 90 renunciou ao terrorismo, era a personificação do sonho de um Estado palestino, causa pela qual lutou até a morte. Os acordos assinados em Oslo, capital norueguesa, são provavelmente o ponto mais próximo da paz a que chegaram israelenses e palestinos. Em 1994, Arafat e Rabin receberam o Nobel da Paz. Muitos palestinos, ontem, sofriam e choravam a sua morte.

Qual Arafat ficará na História?

Por mais paradoxal que seja, a morte de Arafat coloca o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, contra a parede. Afinal, Sharon sempre disse que Arafat era um "obstáculo" ao processo de paz entre israelenses e palestinos. Agora que o obstáculo desapareceu, não resta a Sharon outra alternativa senão avançar ainda mais em ações que busquem uma solução para o conflito, como a já iniciada retirada de colonos israelenses da Faixa de Gaza. Não vai ser fácil. Os partidos políticos que apoiavam Sharon estão abandonando o barco, como os Trabalhistas, e mesmo dentro do Likud (partido de Sharon) a retirada dos colonos de Gaza não foi bem recebida. Resta saber se Sharon vai ter capital político para levar adiante a empreitada, somando a ela ações no sentido do reconhecimento efetivo do Estado palestino.

Por outro lado, a morte de Arafat criou um vácuo de poder entre os palestinos. Mahmoud Abbas (conhecido como Abu Mazen) foi escolhido para substituir Arafat na liderança da OLP, sendo considerado o número 2 entre os palestinos. Mas nem Abbas, nem Ahmed Korei (premiê palestino) gozam de muita popularidade entre os palestinos, sobretudo entre os grupos mais radicais, principalmente por criticarem o uso da violência por tais grupos. Tanto Abbas, quanto Korei ou qualquer outra liderança que ocupe o lugar de Arafat estão fadados ao fracasso se não contarem com o apoio da população e, principalmente, se não conseguirem controlar as milícias armadas e seus ataques terroristas contra alvos israelenses.

quinta-feira, novembro 11, 2004

 

Rir é o remédio


Para quem ainda não leu, ou quem ainda não conhece, leiam isso que o Rafael acaba de publicar. Simplesmente hilariante...!

quarta-feira, novembro 10, 2004

 

Agronegócio como alternativa


O agronegócio pode se tornar realmente uma alternativa viável para o Brasil?
As exportações no setor aumentam a cada ano, baseadas num constante aumento de produtividade e de expansão das fronteiras agrícolas. Estamos entre os maiores produtores mundiais de soja, açúcar, feijão, café, entre outros; e somos também um dos maiores exportadores mundiais de carne bovina. Além dos dividendos econômicos, tal posição confere também poder político ao país, nas diversas esferas de negociação econômica internacionais.
Por outro lado, o agronegócio não pode ser visto como única alternativa de desenvolvimento para um país como o Brasil, por vários motivos. Primeiro porque a composição das riquezas geradas pelas atividades agropecuárias no PIB brasileiro é muito baixa, cerca de 8%. Em segundo lugar, o preço dos produtos primários, aí incluído o agronegócio, vem sendo constantemente desvalorizado no cenário internacional. Em terceiro lugar, o cenário do agronegócio no país está sendo controlado cada vez mais pelas grandes empresas transnacionais, como por exemplo a Monsanto, que interfere cada vez mais na política econômica brasileira defendendo seus interesses na produção de soja transgênica. Por último, tal modelo de desenvolvimento, calcado no agronegócio, pode trazer danos ambientais irreversíveis no que diz respeito à expansão das fronteiras agrícolas, como por exemplo o aumento da área reservada para o cultivo da soja no cerrado.
Os grandes biomas como a Floresta Amazônica, o Cerrado e o pouco que resta da Mata Atlântica se encontram constantemente ameaçados pelo cultivo de tais produtos. Sem falar ainda que, não se pode esquecer da agricultura familiar, responsável pela maior parte do que é produzido no país.
Num mundo cada vez mais competitivo e globalizado, restam poucas chances para que um país periférico como o Brasil passe a fazer parte do seleto grupo dos países desenvolvidos. O desafio é promover o crescimento de todos os setores econômicos, sobretudo aqueles que demandam alta tecnologia. Como exemplo temos a Embraer, uma empresa reconhecida mundialmente pela alta competitividade e desenvolvimento tecnológico. Agregar valor aos produtos nacionais passa por investir em todos os setores econômicos, produzindo tecnologia ao invés de importar, investindo no turismo e setor de serviços em geral, e claro, fomentando o agronegócio, mas não como se fosse a única alternativa possível.

segunda-feira, novembro 08, 2004

 

Eleições


Sei que estou atrasado, mas gostaria de falar um pouco das eleições norte-americanas e brasileiras.
Nos EUA, a despeito de toda expectativa em contrário, George Bush venceu as eleições, com aproximadamente 51% dos votos válidos. Em relação à eleição anterior, decidida no "tapetão" chamado Flórida contra Al Gore, dessa vez Bush levou maioria dos votos da população e também do Colégio Eleitoral. Saiu um pouco mais fortalecido, a despeito de toda gritaria mundial contra sua administração. Recado dos eleitores americanos ao mundo: não estamos nem aí pra vocês.

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Uma breve análise do mapa eleitoral norte-americano mostra que a situação se manteve praticamente a mesma das eleições anteriores, com a diferença de uma presença maior dos eleitores. Nos estados onde Gore havia vencido anteriormente, venceu John Kerry; nos estados onde havia vencido anteriormente, Bush venceu de novo. Divididos ao meio, a eleição norte-americana mostra os estados mais modenos, como California e Nova York, que deram vitória a Kerry e anseiam por mudanças no cenário político, contra os eleitores do interior norte-americano, impregnados de um certo conservadorismo de viés religioso.

A mim me parece, apesar de não gostar da administração Bush, que caso o vitorioso tivesse sido John Kerry, nada iria mudar substancialmente. Por lá, o tal "Destino Manifesto" e o simbolismo dos "Fouding Fathers", além dos interesses das indústrias bélica e farmacêutica, por exemplo, falam mais alto do que qualquer projeto pessoal de alguém que ocupe a presidência. A retórica de Kerry mantinha um viés de oposição à Bush e suas ações, mas caso aquele tivesse sido eleito, o "status quo" seria o mesmo.

Já aqui, no Brasil, o PT alardeia que tenha sido o grande vitorioso das últimas eleições. Balela. De São Paulo pra baixo, o que se viu foi que o PT não se saiu nada bem, perdendo duas capitais importantes como São Paulo (mais cobiçada do país) e Porto Alegre (tradicional reduto petista), elegendo pouquíssimos prefeitos em cidades médias e pequenas. Em Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT) seria eleito mesmo se disputasse o pleito por outro partido, devido à falta de um adversário de peso e a boa administração que realiza na cidade. Em Aracaju, Marcelo Déda (PT) se configura em caso semelhante, e seria reeleito de qualquer maneira, embora disso o Rafael possa falar com mais propriedade.

Contando algumas poucas capitais de peso no Nordeste, o tiro do PT saiu pela culatra.

O povo não é tão besta assim, mister Lula.

sexta-feira, novembro 05, 2004

 

Arafat e Rabin



Ontem a noite, um porta-voz do hospital parisiense onde está internado Yasser Arafat, comunicou à imprensa que o presidente da Autoridade Nacional Palestina havia sofrido morte cerebral. A notícia foi reproduzida por vários blogueiros mundo afora, mas desmentida em muitos lugares devido ao total desencontro de informações entre o que realmente ocorreu e a legislação francesa, que só admite a morte oficial quando o coração do paciente pára, o que não ocorreu com Arafat.

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Como era de se esperar, o ministro palestino das Relações Exteriores, Nabil Shaath, negou a informação, assim como seu médico particular, dr. Ashraf Kurdi. Mas a verdade é que segundo algumas agências de notícias internacionais, líderes da ANP fizeram, ainda ontem, uma reunião de emergência para debater como evitar tumultos nos territórios palestinos.

Para muitos, a morte de Arafat abriria caminho aproximaria a região da paz. Pode ser. Mas quem será capaz de dialogar com os grupos que lutam pela causa palestina, como o Hamas, a FPLP, a Jihad Islâmica, e liderá-los para que a paz possa ser realmente alcançada?
Muitos imaginam que Arafat nunca tenha desejado realmente a paz. Ficou na história o episódio em que abandonou a mesa de negociações e recusou o acordo proposto por Ehud Barak, quando foi duramente criticado e acusado de não querer a continuidde do processo de paz. Mas a verdade é que tal acordo, apesar de atender boa parte das reivindicações palestinas, não concedia aos territórios a autonomia de um Estado independente, ponto fundamental para os palestinos e, devemos reconhecer, até certo ponto uma reivindicação justa.

A ironia do destino, a se confirmar a morte do líder da ANP, é que na mesma data, há nove anos atrás (1995), foi assassinado o então premiê israelense Itzhak Rabin, morto com três tiros pelo extremista religioso judeu (sim, fundamentalismo não é característica somente dos muçulmanos) Igal Amir, que tinha como objetivo "impedir que Rabin aceitasse um Estado palestino no coração da Terra de Israel". Mais uma vez o processo de paz foi interrompido, dessa vez pelo lado israelense.

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Rabin talvez tenha sido o líder israelense que mais avançou na direção da paz entre israelenses e palestinos, mais ate do que com Barak. Os chamados acordos de Oslo, celebrados entre Rabin e Arafat, mediados pelo ex-presidente norte-americano Bill Clinton, pareciam se constituir numa solução definitiva, criando no mundo inteiro uma grande expectativa em relação ao fim dos conflitos entre árabes e israelenses.
Em Outubro de 1994, o prêmio Nobel da Paz foi concedido à Rabin e Arafat.

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Resta saber agora se existem novos Arafat e Rabin. Resta saber se a paz ainda continuará sendo mera utopia.

quinta-feira, novembro 04, 2004

 

Universidade Para Todos?


Recentemente, foi divulgado pelo governo o programa Universidade para Todos, o ProUni, e um projeto que reserva metade das vagas das federais para alunos oriundos da rede pública. São medidas interessantes, que realmente podem gerar um certo nível de inclusão. Mas por enquanto, só está gerando polêmica. Mas algumas críticas devem realmente ser feitas. Para mim o governo continua ainda maquiando o problema, e ainda fere o princípio da igualdade. Claro que as instituições particulares de ensino não estão vendo nem o Universidade para Todos e muito menos o projeto com bons olhos.

Mas, minha surpresa mesmo vem da manifestação do movimento negro contra a chamada "cota social". Nesta, o determinante é a renda, e não a cota racial adotada em algumas instituições. Entre as críticas, uma do deputado Luiz Alberto (PT-BA), presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Igualdade Racial chama a atenção: afirma que as cotas sociais, no lugar das cotas raciais, "é uma forma de evitar o debate do racismo no Brasil". (ver matéria)

Engraçado. Sempre fui a favor de uma política de inclusão mais ampla. Sempre imaginei que uma política em educação voltada para os cidadãos de baixa renda, com certeza estaria assim atingindo também a população negra, grande maioria entre os pobres. O que nunca concordei e nem posso concordar é com este racismo às avessas. Como já disse uma vez, nunca aceitaria entrar numa Universidade onde o determinante seria a cor da minha pele. É quase um racismo às avessas. Já defender o pobre, o cidadão de baixa renda, é dever do Estado. É pra isso também que ele existe.

O que o movimento negro não consegue enxergar, ou finge não ver, é o seguinte: quantos negros concluem hoje o segundo grau? Segundo fontes não-oficiais, um em cada cinco. E os outros quatro? Estes podem então ficar fora da universidade?
Quantos pobres concluem o segundo grau? Quantos têm a chance de cursar uma faculdade?
O essencial está sendo deixado de fora.

Quando será que vai ser discutida a situação de trabalho da maioria dos professores da rede pública, sem material, sem infra-estrutura, sem segurança? Quando será discutida a condição de vida dos professores hoje, com o salário que ganham?
Quando será feita uma verdadeira reforma no ensino fundamental e médio públicos, tornando-os de qualidade, como um dia já foram?

quarta-feira, novembro 03, 2004

 

Descontração


Tá, isto não é um fotolog, eu sei. Desculpem. É apenas para fazer um registro de um momento de descontração, após a Feira de Ciências da escola onde trabalho.

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Bruno, (professor de Matemática), Pedro (aluno) e EU.

terça-feira, novembro 02, 2004

 

Baixaria ou realidade?


A Carta Capital publicou uma matéria que trata da chamada "baixaria" na programação das emissoras de televisão aberta. Está para ser aprovada no Senado uma medida provisória, a MP 195, que pretende alterar a forma da classificação dos programas de TV atuais, permitindo a influência de entidades da sociedade civil na decisão sobre horários e faixas etárias das atrações exibidas.

Uma boa pergunta, para a qual ainda não obtive resposta: Quem são as "entidades da sociedade civil", que vão exercer tal poder de decisão?

Além da tal MP, já existe a quase dois anos a campanha "Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania", promovida pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara, que divulga a cada quatro meses um certo "ranking da baixaria". Além disso, a campanha vai passar a divulgar o nome dos anunciantes e patrocinadores dos "campeões de mau gosto". Segundo um dos criadores da campanha, o deputado Orlando Fantazzini, baixaria seria:

"...a programação que sistematicamente afronte dispositivos da Constituição, da lei ordinária e das convenções internacionais. Fazer apologia ao crime é afrontar o Código Penal. Estimular ou instigar preconceito racial fere a Constituição. O artigo 1º da Constituição diz que a República tem por princípio e fundamento a dignidade da pessoa humana. Então, você degradar a imagem do ser humano é uma afronta. Usar a mulher como mero objeto sexual desrespeita a Convenção Internacional dos Direitos da Mulher. E assim por diante. Todos os nossos critérios são objetivos. Não entramos em critérios subjetivos: o que pode ser baixaria para você, não é baixaria para mim. Não saímos disso. Até para não incorrer o risco de cair no fundamentalismo religioso, no moralismo."

Certo. Reconheço que é difícil ligar a TV, e assistir coisas como João Kleber, Márcia Goldschmidt, Ratinho, Gugu, Faustão e aqueles programinhas "policiais", como o Cidade Alerta. É duro.

Mas até que ponto tais atitudes como a citada campanha e a MP 195 são legítimas, e a partir de quando podem se tornar uma certa "censura"? Como conciliar valores como "liberdade de expressão" e "qualidade" dos programas televisivos? A respeito do assunto, muita gente se posiciona contra a regulamentação, muita gente a favor.

Os do contra argumentam que tais programas que promovem "baixarias", contam com razoáveis índices de audiência, portanto, se fossem mesmo tão ruins, não haveria pessoas dispostas a assistir. Além disso, as pessoas são livres para mudar de canal ou desligar o aparelho quando o que estiver sendo exibido não for do seu agrado. Mas e se quem estiver assistindo for uma criança de sete anos? Minha filha, por exemplo, sabe muito bem ligar uma televisão e trocar de canal, apesar de não ter discernimento suficiente, para saber o que é bom ou ruim, o que pode ou não pode assistir. Dentro de casa, exerço realmente o papel de "censor", decidindo para ela o que deve assistir. Mas é certo que se crie esse papel de "censor" para o restante da sociedade?

Quem é a favor da regulamentação, vê nas tais "atrações" uma verdadeira fonte da exploração da miséria humana. É um desfile sem fim de corpos mutilados, pessoas desesperadas que fazem qualquer coisa por dinheiro, armações e mentiras na ânsia de reproduzir a realidade, violência e apelo sexual.

O problema é: ao exercer tal regulamentação, quem vai dizer o que pode e o que não pode ser exibido? Quais os critérios que serão utilizados? Serão mesmo aqueles que "afrontam a Constituição e as convenções internacionais"? Quem garante que seja assim?

Acho sinceramente que alguma coisa necessita ser feita. A campanha contra a "baixaria" e a MP já servem, no mínimo, para suscitar o debate. Mas convém lembrar que os tais programas, muitas vezes, não fazem mais do que mostrar a realidade das ruas, e contra isso não criaram ainda um controle remoto eficiente.

Posso proibir minha filha de assistir certas coisas. Mas a realidade é muito mais forte que o mais apelativo destes programas. Outro dia, durante um "tiroteio" (sim, tiroteio) na porta da escola onde ela estuda, depois de uma discussão por motivos fúteis, dois alunos foram feridos por balas perdidas. Agora ela não quer mais ir à escola, ficou apavorada. E olha que nem foi no mesmo turno que ela estuda, então não presenciou os acontecimentos (ainda bem). Mas da inocência dos seus 7 anos, virou para mim e disse: "Pai, não quero mais ir à escola, tô com medo do tiroteio!!!"

Nesses casos, o que fazer? Contra a realidade, não existe "campanha" ou MP que resolva.


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