sábado, outubro 30, 2004

 

Homem versus meio ambiente


Nunca fui um ambientalista "radical". Não me parece possível sobreviver neste planeta apenas "contemplando" a natureza. Acho sim, perfeitamente possível, uma convivência Homem/Natureza mais harmoniosa, mesmo porque da conservação de um, depende a sobrevivência do outro. Portanto, um uso adequado dos recursos naturais e uma convivência mais pacífica entre o homem e o meio ambiente se faz urgente. Chame-se isso de "desenvolvimento sustentável", "uso racional dos recursos ambientais", ou qualquer outra coisa.
Na grande maioria dos casos, essa convivência não é lá muito harmoniosa, sendo mesmo na maior parte das vezes impossível de acontecer. É o preço que pagamos pela nossa racionalidade, por sermos donos e senhores do planeta e dos seus recursos. Ou não é bem assim? Dando a "César o que é de César", existem casos em que a preservação prevalece sobre o uso.

Vejamos.
Fiquei sabendo aqui, que um juiz da 4ª Vara Cível da Comarca de Petrópolis, o sr. Ronald Pietre, julgou improcedentes ações do MP (Ministério Público), sobre as ocupações irregulares em margens de rio. Nas palavras do meritíssimo:

"O meio ambiente existe para servir ao homem e não o contrário. Por causa disso, não existe discrepância alguma em sacrificar o meio ambiente quando está em jogo a própria habitação de numerosas famílias".

"O meio ambiente existe para servir ao homem". Bonito isso. Só falta avisar ao meio ambiente, para que ele se coloque em seu devido lugar, e pare de nos pregar peças. Afinal, quem ele pensa que é? Entre o meio ambiente e o homem, fiquemos com o homem, claro. Mas não se trata disso.
Duvido muito que não exista qualquer outro espaço em Petrópolis, onde o poder público possa construir habitações dignas para aquelas pessoas que estão realmente necessitando. Nessa história toda, talvez sejam os menos culpados. Não os transformemos em vilões e vítimas, deixando que ocupem as margens dos rios.

Vilões sim, porque a presença de pessoas nestes locais, como a prática demonstra, geralmente se traduz em poluição, assoreamento, destruição de nascentes e mata ciliar.
Vítimas também, porque a presença de pessoas nestes locais, como a prática também demonstra, geralmente se traduz em trágicos acidentes, originados por deslizamentos de encostas, enchentes e doenças, devido às condições insalubres.

Só para lembrar ao meritíssimo, existe uma legislação ambiental, que proíbe categoricamente a ocupação das Áreas de Preservação Permanente, e aí estão incluídas as margens do rio, as nascentes e matas ciliares. Sei que o senhor já fez sua opção, é só pra lembrar, meritíssimo. Menos arrogância e prepotência, um pouco mais de bom senso, caldo de galinha e outras coisinhas não fazem mal pra ninguém. E no caso, ajudam a aumentar a nossa permanência por aqui, como eternos reis e senhores desse planeta.

quinta-feira, outubro 28, 2004

 

Trabalho, renda e educação


O Alexandre, do LLL, um dia destes postou alguma coisa sobre os resultados de uma pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), realizada por Marcelo Medeiros, economista do IPEA.
O artigo citado pelo Alexandre é de Rafael Cariello, e foi publicado na Folha de domingo. Destaco apenas algumas partes:

"As diferenças de escolaridade não explicam a desigualdade social e econômica do país.
Os ricos são ricos não porque puderam estudar mais -ou porque são brancos, homens e moram no Sudeste, embora tudo isso ajude-, mas principalmente por causa da "herança" que recebem de seus pais também ricos (que pode ser a oportunidade de ter uma educação de elite, de terem crédito, de terem uma rede de relações pessoais com outras pessoas também ricas que lhes garanta bons empregos ou, simples, herança financeira mesmo).
No fundo, esse estudo é sobre mobilidade social no Brasil." No fundo, esse estudo é sobre aquilo que -quase- não há."

Achei o artigo citado meio estranho, e na dúvida, procurei o site do IPEA, e baixei o trabalho do Marcelo Medeiros na íntegra. Foram utilizados no trabalho, os dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) de 1997,1998 1999.
Algumas considerações:

Primeiro, realizar um trabalho, como fez o economista, definindo como "ricos" aqueles que possuem renda superior a R$ 2.170 reais é uma temeridade. Se for assim, como disse o Alexandre, o país tem muito mais ricos do que se imagina.

Segundo, o articulista da Folha, Rafael Cariello, parece não ter lido o trabalho na íntegra ou não ter compreendido alguma coisa. O trabalho do economista não vincula necessariamente educação com riqueza. Nem é desta maneira que acontece. O que se conclui, ao ler o tabalho, é que nem a educação, nem características como raça, sexo ou região, são suficientes para explicar o nível de rendimento da classe mais rica. Entra em cena o que o pesquisador chamou de "atributos não-produtivos", e aí sim poderíamos relacionar o círculo de amizades e contatos, questões como herança, entre outras coisas. Mas não podemos colocar o carro na frente dos bois, como fez a "Folha", e chegar a conclusões que o trabalho não chegou.

Em terceiro lugar, qual é afinal, o objetivo do artigo do economista do IPEA? O que pretendia o sr. Marcelo Medeiros com tal trabalho?
Partindo de critérios questionáveis, dizer que uma educação de qualidade não deixa ninguém rico? Ora, isto realmente todo mundo sabe, não tinha necessidade do IPEA gastar tempo e dinheiro tentando demonstrar. Para os que não desejam se tornar milionários, o próprio trabalho traz em si dados interessantes: 1 ano de estudo representa 18% a mais no rendimento médio do cidadão, e 15 anos representariam, portanto, 754%. Se levarmos em conta que o limite de pobreza estabelecido na pesquisa é de R$ 80,97 per capita mensais, já seria um salto enorme de qualidade.
Aliás, o próprio título do trabalho é: "As oportunidades de ser rico por meio do trabalho estão abertas a todos". Não está em jogo aqui a educação, mas é pior ainda: ficar rico trabalhando? Quem? Quando? Onde?
Se quiserem ficar ricos, ouçam bem: não percam tempo trabalhando. Nada disso. Montem uma banda de Axé, um grupo de pagode, sejam jogadores de futebol (craques, claro). Mas esqueçam esse negócio de trabalhar.
Mas estudem. Ainda que não muito, estudem. Se não conseguirem ficar ricos, podem um dia trabalhar no IPEA, fazendo pesquisas sobre o "óbvio ululante". É uma boa, como podem ver.

terça-feira, outubro 26, 2004

 

Brasil e Haiti (III)


O Brasil parece que acaba de se meter numa sinuca de bico.

A situação no Haiti é cada vez mais grave, com frequentes escaramuças entre as diversas milícias que se armaram durante o processo de deposição do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, agora se armam novamente e lutam para depor o atual presidente Boniface Alexandre. Após certo período de estabilidade, ancorado em festa e futebol, a força de paz brasileira enfrenta agora nova onda de protestos, saques, invasões e confrontos. A situação se agravou, principalmente, depois da passagem do furacão "Jeanne", que causou a morte de mais de 2.500 pessoas, além de ter arrassado a cidade de Gonaives e atingido grande parte do país.

Na barganha do tão cobiçado lugar no Conselho de Segurança da ONU, o presidente Lula enviou tropas para liderar uma "missão de paz" no país. Depois reclamam do tal "imperialismo ianque" (não estou dizendo que ele não existe). Acontece que o número de soldados e policiais é bem menor que o previsto, e pelo andar da carruagem, insuficiente para conter a situação caso ela se agrave.
Um soldado gaúcho já foi ferido. Resta saber o que a ONU ou o governo brasileiro pretendem fazer, antes que um provável confronto entre as tropas brasileiras e as milícias armadas realmente ocorra, descambando para uma matança geral.

 

Criminalização da Pobreza (título emprestado)


Brilhante o post do Guto, lá do Observador Sociológico, a respeito da "criminalização da pobreza". Também tinha lido o artigo do Diogo Mainard, e estava me preparando para postar alguma coisa aqui sobre o assunto. Mas o Guto já disse praticamente tudo o que eu queria dizer. Aliás, o asssunto é recorrente aqui no blog, já tendo sido abordado em vários posts, ainda que de maneira não tão direta. Pobreza e criminalidade, ainda que em determinados momentos andem juntos, não são sinônimos. É o que eu ja disse aqui em várias ocasiões: ainda que a pobreza possa influenciar, pesar nas decisões, não pode ser vista como causa, senão teríamos apenas no Brasil milhões e milhões de criminosos.

Vale a pena dar uma conferida no post do Guto, ainda mais porquê a discussão está longe de seu fim.

domingo, outubro 24, 2004

 

Jovens e seus valores


Um dia desses, corrigindo algumas provas e trabalhos, uma resposta de uma aluna da sétima série me chamou a atenção.
Tinha trabalhado com a turma um texto na sala de aula, na verdade uma reportagem sobre um acidente de carro, publicada na revista Educação de outubro de 1997. A reportagem se chama "Bonitos, Ricos e Malvados", e trata de uma briga envolvendo jovens ricos em São Paulo, onde um grupo, após avançar o sinal e bater em um carro, espancou o motorista do outro carro com tacos de beisebol. Tanto vítima quanto agressores eram adolescentes de classe média alta, segundo o perfil traçado pela revista.
Como a escola onde trabalho tinha sido arrombada a pouco tempo, casos de violência envolvendo jovens e adolescentes se multiplicam em Belo Horizonte, achei que o tema vinha a calhar. Uma das respostas da aluna era na verdade um protesto, dizendo que "todos falam mal dos adolescentes", que os adolescentes só "queriam viver em paz", e que pra ela tava "tudo jóia"...
Li novamente o texto sobre a reportagem uma, duas vezes... pensei em toda a nossa discussão dentro da sala de aula, do ponto de vista da maioria dos alunos... a discussão não foi para condenar os jovens ou adolescentes. Era sobre a violência gratuita, cotidiana, que pode a qualquer momento atingir a todos nós. Em momento algum, falei que jovens ou adolescentes, ou ricos ou pobres seriam nossos únicos "transgressores".
Cheguei a ficar na dúvida se a aluna tinha lido realmente o texto... ainda acho que não leu...
Valorizar a violência como forma de resolver os conflitos, e mais, achar que pessoas que agridem outra quase até a morte com tacos de beisebol, quebrando seus ossos apenas por uma batida de trânsito onde eles é que estavam errados, não faz o menor sentido. Como não faz sentido o discurso de transformar todos os infratores em vítima, principalmente dependendo de sua condição social. Também não faz sentido discriminar alguém por causa de sua classe, cor, religião ou opção sexual. Nem valorizar alguém apenas orientado por estes critérios...
Tratar a violência como algo normal, dizendo que "tá tudo jóia" é um dos reflexos da crise que nossa sociedade atravessa... banalização da violência, falta de princípios morais, e por aí vai...
Fica muito difícil estar hoje em dia no condição de educador. Seja como pai, seja como professor. Eu, na qualidade de pai e professor, confesso que estou cada dia mais preocupado com os rumos que as coisas estão tomando.

A tempo, antes que digam que a justiça é apenas para os pobres: no caso da reportagem citada, dois jovens, menores de idade (inclusive o motorista) foram punidos e cumpriram pena em uma instituição própria para menores infratores. Após alguns meses, quando terminaram de cumprir a sentença, foram mandados pelos pais para estudar fora do país. Coitados. Os outros três ocupantes do carro e também agressores, maiores de idade, ainda estariam presos. O rapaz agredido, depois de múltiplas fraturas pelo corpo, está obrigado a conviver com um coágulo no cérebro que, segundo a reportagem, pode matá-lo a qualquer momento...

 

Sobre o Blog


Dia desses, um amigo que sempre visita o Blog, perguntou sobre as páginas e blogs que coloquei aqui na coluna da esquerda. Ele não entendia porquê eu tinha colocado páginas e blogs, completamente diferentes, alguns praticamente opostos. Mídia sem Máscara versus Centro de Mídia Independente, ou o blog do Cristovam e o Oito Colunas, e por aí vai...

Expliquei que alguns, claro, estavam bem de acordo com o que penso, e era inevitável não colocar eles ali. Outros, tenho até preguiça de ler ou comentar algo, mas acho importante que estejam ali, que sejam conhecidos, às vezes até mesmo por serem e pensarem tão diferente. Viva a diversidade.

 

Agressivos


Para quem, controladamente, sente raiva de tudo:

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quinta-feira, outubro 21, 2004

 

Fragmentos de um passado recente


Os que me conhecem já sabem: sou meio "brega", ou seja lá o que for que essa palavra quer dizer. Estava pensando nisso agora mesmo, ouvindo "Detalhes", do Roberto Carlos. Meu gosto musical é bem variado, e acabo ouvindo de tudo um pouco, gostando de tudo um pouco. Ou quase tudo. Tem coisa que não dá pra escutar. Me perdoem, mas funk, axé e coisas do gênero não dá. Não cheguei nesse nível ainda. Mas adoro Roberto Carlos e Eduardo Dusek, por exemplo. Um porque me lembra bons momentos da minha infância/adolescência. Outro porque me lembra alguém de quem gosto muito. Minha praia mesmo é MPB, Rock, e aí escuto de tudo.
Mas afinal, música é isso. É muito mais que simples ondas sonoras. São emoções, sensações, lembranças, saudades que chegam até a gente em forma de som. Pra mim, música tem cheiro, cor e forma.

Além de "brega", sou meio careta (sem ser maniqueísta): sei que ninguém é inteiramente bom ou mal, que ninguem mente ou fala a verdade todo o tempo, enfim, que não existe perfeição nesse mundo. Sei que nem sempre bandido é bandido e polícia é polícia, e que frequentemente os dois lados se confundem, se misturam. Mesmo sabendo disso tudo, tenho uma tendência (ou um defeito, como queiram) de sempre tentar distinguir o certo do errado, por achar que existe realmente o certo e o errado, e não gostar de ficar "relativizando" tudo, como é moda por aí. Tenho colegas que dizem que às vezes eu assumo o discurso da classe média. Espero que saibam o que estão dizendo, porque eu não sei. Além disso, tenho uma tolerância muito baixa em relação às barbaridades nossas de todo dia. Sei, vivemos num país de profundas desigualdades sociais, onde falta ao cidadão direitos básicos como educação, moradia, saúde e emprego. Mas parto sempre da premissa contrária ao ditado francês que diz que "tudo compreender é tudo perdoar"; vivo dizendo que isso não justifica a violência, os assaltos nos ônibus, as balas perdidas, enfim, a bandidagem que age impunemente por aí. Isso vale desde o batedor de carteiras ao terrorista, de Bin Laden a Bush.

Nada disso justifica tais coisas. Não esperem de mim achar que são todos "coitados", vítimas do sistema. Vivem sem respeito à vida humana, inclusive a deles, baseados em valores morais ou éticos criados pelo seu cérebro marginal. Tem gente que acha que ser pobre lhes dá o direito de fazer o que der na telha. Moro perto de uma favela (ou vila, como queiram) e o que vejo são ônibus lotados de manhã e de tarde, com pessoas que vão e vem dos seus trabalhos (verdade que ultimamente, o desemprego é tão grande que até os ônibus estão menos cheios), que tentam ganhar a vida honestamente.

Como último argumento, ainda que a vida seja uma porcaria, que você não tenha onde cair morto, desempregado, faminto... Sempre se pode dizer não. O soldado convocado para a guerra, para matar, tem a opção de dizer "não". Os soldados nazistas tinham a opção de dizer "não" aos seus superiores. Pilatos, se existiu realmente, teve a opção de dizer o seu "não", e não o fez. Quem jogou a bomba atômica em Hiroshima e Nagazaki podia ter dito não. Nós sempre temos uma escolha, e somos os únicos responsáveis pela consequência de nossos atos. Por a culpa em Deus, no sistema, na classe média, no "governo" ou em qualquer outra coisa é muito mais fácil do que assumir que a decisão, no final, é sempre nossa.
Viktor Frankl, um judeu aprisionado pelos nazistas em um campo de concentração, fez a seguinte observação: "Entre o estímulo e a resposta, o homem possui a liberdade de escolha". É isso. Cada um que fique com a sua.

Devemos ter cuidado com a hipocrisia. Certo dia ouvi de alguém, na faculdade, dizer que "dava mais valor àqueles que não tinham estudo nenhum". Claro, eu sei que todos têm o seu valor, independente de credo, raça, e frequentar ou não a universidade não quer dizer quase nada. A sabedoria popular não tem preço. Engraçado foi ouvir ele dizer isso, e não dizer "vou largar minha faculdade e me juntar a eles", ou "porque não trazer eles para a faculdade, para somar à sabedoria que já possuem"? Fazer a revolução de carrão importado, conta especial e falando inglês é mais chique e mais confortável, não?...
Da mesma maneira, falar mal da classe média, da Globo, do governo, ou de quem quer que seja é fácil. Difícil é abrir mão do conforto pequeno-burguês de todo dia, olhar o outro verdadeiramente e dizer: "o que posso fazer pra ajudar, pra mudar as coisas?"... e aí começa a parte mais difícil: fazer.

Falando em fazer, Eduardo Alves tem um poema belíssimo, que muito pouca gente sabe verdadeiramente ser ele o autor, e cujos "fragmentos" mais conhecidos, reproduzo abaixo:

NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI (fragmentos)
EDUARDO ALVES DA COSTA

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.


* * *

Aliás, estes versos lembram muito os "fragmentos de um outro poema, de Martin Niemoller:

Primeiro eles levaram os comunistas, e eu não falei nada,
porque eu não era um comunista.
Então eles levaram meu vizinho que era judeu, e eu não falei nada,
porque eu não era um judeu.
Então eles levaram os católicos, e eu não falei nada,
porque eu era Protestante.
Então eles vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar.


terça-feira, outubro 19, 2004

 

"Desigualdade Produtiva" ou Desigualdade de Renda?


Acabo de ver um artigo do economista e professor da George Mason University, Walter Williams, a respeito do que ele chama de "Desigualdade Produtiva". Quem preferir ler o artigo na íntegra, basta clicar aqui. Vou colocar apenas as partes que considero mais interessantes já que o artigo é muito extenso, mas sem correr o risco de deturpar a idéia principal do professor.

Resumidamente, segundo o artigo, o professor Walter Williams acredita que a batalha a ser vencida não seria contra a desigualdade de renda, mas sim contra o que ele chama de desigualdade produtiva. Para ilustrar seu pensamento, o professor inicia o artigo citando os rendimentos de várias estrelas do esporte, como Shaquille O'Neal ($ 32 milhões), Tiger Woods ($ 80 milhões) e o ator hollywoodiano Mel Gibson ($ 210 milhões), entre outros, em contraste com o rendimento anual do também jogador de basquete Jamal Sampson ($ 350.000).

Em seguida, o professor passa a explicar as razões que, no seu entendimento, justificariam tal desigualdade de renda entre as pessoas citadas. Diz o professor:
"Por que algumas pessoas conseguem ter maiores rendimentos que outras? São eles simplesmente os ganhadores da "loteria da vida", como o congressista democrata Richard Gephardt costuma dizer? Nada poderia estar mais longe da verdade. Indivíduos são diferentes. Nós diferimos uns dos outros em vários sentidos: ambição, talento, aptidão, perseverança, inteligência e força física."

Até aí tudo bem. Indivíduos são diferentes, possuem motivações diferentes, interesses diferentes, habilidades diferentes, e eu nunca engoli nem entendi muito bem aquela história de salários iguais para todos. Mas para o professor, as razões que explicam as diferenças são outras, como ele explica a seguir:

"...Mas existe outra explicação para as diferenças de rendimento que as pessoas raramente levam em consideração: as escolhas dos consumidores. Shaquille joga basquete, assim como eu. Portanto, por que eu não ganho tanto dinheiro quanto ele? Simplesmente porque milhões de pessoas irão gastar entre $80 e $500 para assistir um jogo de Shaquille, enquanto ninguém gastaria sequer um centavo para ver-me jogar."

Até aqui, o raciocínio do professor ainda faz sentido. Com certeza, Shaquille joga muito mais basquete que o professor, pois se não fosse assim, provavelmente este já teria deixado de dar aulas e teria ido fazer companhia ao famoso jogador. Mas continuemos:

"... As pessoas gastam muito tempo preocupando-se com a desigualdade de renda...."

"No entanto, muito maior ajuda daríamos ao nosso próximo se focássemos nossa atenção não na desigualdade de renda, pois esta é somente uma conseqüência. E é a desigualdade produtiva o que melhor explica essa conseqüência, muito melhor do que todas as insidiosas teorias conspiratórias tão em voga hoje em dia. Não importa se são indivíduos ou países, a verdade é que raramente se vê pessoas/nações produtivas pobres ou improdutivas ricas, a menos que haja restrições e subsídios governamentais em jogo. Fazer os indivíduos mais produtivos é o desafio. Lamuriar-se sobre desigualdade de renda é fugir das próprias responsabilidades."

Aí a teoria do professor começa a fazer água. Uma coisa é o universo dos ídolos do esporte ou do cinema, cujas indústrias movimentam bilhões de dólares por ano em patrocínio, investimentos, salários, propaganda, entre outras coisas. Ainda assim, como o próprio professor demonstra no início do artigo, esportistas ou atores bem-sucedidos são a exceção, não a regra. Basta ver no "país do futebol" a quantidade de craques que temos em relação à enormidade de jogadores medianos e ruins que atuam profissionalmente em todo o país. Excelentes atores, tanto aqui como em Hollywood, capazes de seduzir multidões, também são a exceção. Talvez neste universo, poderíamos pensar em algo semelhante à "desigualdade produtiva" de que fala o artigo.
Outra coisa, bem diferente, é estender tal tipo de análise ao universo social em geral. Numa sociedade, a desigualdade de renda produz feridas profundas, tolhe liberdades, barra oportunidades, gera pobreza, revolta, violência. A menos que a sociedade imaginada pelo professor esteja restrita ao universo hollywoodiano, ignorar a desigualdade de renda na sociedade em geral, e os males que ela produz, é fechar os olhos para os problemas por ela causados. É selar o próprio caixão.
Mais a mais, tal análise não tem como ser estendida a países e nações, como quer o professor. Não dá para ser tão simplista. Não podemos, baseados na análise do indivíduo, estender o resultado para uma nação, pelo simples fato dela representar muito mais do que a soma de seus indivíduos. A regra é outra, como bem assinala o professor (mas finge não ver): "a menos que haja restrições e subsídios governamentais em jogo". É nisso que dá misturar análise de situações individuais e querer empurrar os resultados para analisar um país qualquer.
O professor sim, parece estar fugindo de suas responsabilidades, olhando para seu próprio umbigo e desconhecendo o mundo a sua volta. Que qualquer dia, pode bater à sua porta.

sábado, outubro 16, 2004

 

Boatos e Lendas na Internet


Meu amigo Zé Antônio, editor do blog de Geografia da Puc-Minas, acaba de publicar um texto sobre um suposto livro de Geografia norte-americano, onde se mostra um Brasil amputado, sem a Amazônia, que passa a ser declarada área de interesse internacional...
Tal lenda é antiga, e sempre retorna à internet e passa a ser amplamente divulgada. O pessoal do Quatro Cantos, experts em desmistificar tais lendas e boatos, prontamente desmentiram o que corre a respeito do "tal" livro. Se não me engano até mesmo o Governo Federal, através de um ministro ou embaixador nos EUA, já tinham se encarregado de desmistificar essa história. Mas, como ela sempre volta, é bom dar uma olhadinha...

 

Xenofobismo e outros "ismos"


Vi essa notícia no Blogue de Esquerda: Sabrina Varroni, italiana convertida ao Islamismo, moradora da cidade de Drezzo, foi multada por usar a "burka", aquele traje típico que algumas muçulmanas utilizam para cobrir todo o corpo. A multa se baseia numa lei local de 1975, que proíbe o uso de "máscaras" na rua.

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Tal medida se assemelha à decisão da França de proibir o uso de tais símbolos nas suas escolas. Se a moda pega (como é comum acontecer entre os Europeus), logo toda a Europa irá reprimir tais símbolos e outras manifestações, o que com certeza gerará uma onda de protestos e manifestações (pacíficas ou não).
Curioso é a justificativa que um jornal italiano utiliza para o episódio: que "a burka é o cavalo de tróia dos muçulmanos, uma estratégia pra introduzir a sua civilização na nossa terra".
E depois, irracionais são os outros...

* * *

Aproveitando o assunto, e falando de outros "ismos", li no jornal mineiro Diário da Tarde a seguinte notícia, a respeito do assassinato de uma jovem palestina por soldados israelenses:

"Iman era uma menina de 13 anos. Ia para a escola com sua mochila de livros. Passou a 70 metros de uma patrulha militar de Israel, no campo de refugiados de Rafah, na Palestina, atiraram nela. Correu, deixando a mochila:

- O comandante da unidade deu dois tiros de misericórdia quando já estava caída e disparou contra o corpo os tiros restantes de sua arma.
"

...

quinta-feira, outubro 14, 2004

 

Para entender o capitalismo


Encontrei no endereço do João Mellão, este texto muito interessante, que já postei aqui uma vez:


"Para entender o capitalismo

Como explicar tudo isso de forma sucinta e acessível?

OESP - publicado em maio de 2004

Joãozinho, meu filho, está na faculdade. Um dia desses, um professor falou-lhe maravilhas sobre o comunismo e ele veio me questionar:

__Pai, se o comunismo é tão bom, por que é que o capitalismo venceu em todo o mundo?

Eu poderia indicar-lhe uma centena de livros, mas preferi me propor um desafio: como explicar a um jovem, de forma sucinta e acessível, as inúmeras contradições entre os dois sistemas? Eis, em resumo, o que lhe falei.

__João, o comunismo seria um sistema perfeito se ele não exigisse, como pré-condição, um ser humano perfeito para nele viver. O capitalismo funciona porque ele aceita a natureza humana como ela é e se propõe a aperfeiçoar a sociedade com base no homem já existente.

__Como assim?

__Houve uma época, entre os séculos 19 e 20, em que se acreditava que, se o progresso científico podia revolucionar a natureza física, ele também seria capaz de revolucionar a sociedade e a natureza humana. Daí nasceu a idéia do socialismo e do comunismo. Essa idéia, infelizmente, se mostrou errada. A natureza humana - não importa o progresso material - é imutável. Os homens são, por essência, egoístas, ambiciosos e engenhosos, e a sociedade só pode ser aperfeiçoada se partirmos desses pressupostos.

__É essa a premissa básica do capitalismo?

__É. O capitalismo não é uma ideologia pré-elaborada. Ele nasceu espontaneamente, como conseqüência natural do progresso econômico da Humanidade. Ele não tem criadores, tem, no máximo, interpretadores.

O primeiro deles, foi Adam Smith, um filósofo moral que, na década de 1770, afirmou que todos nós, humanos, temos o desejo inato de melhorar as nossas próprias condições. Segundo Smith "os governos não deveriam reprimir o egoísmo, pois as nações empobreceriam se dependessem unicamente da caridade e do altruísmo".A sua mais famosa constatação foi a de que "não é pela benevolência do açougueiro ou do padeiro que nós contamos com o nosso jantar, mas sim pelo próprio interesse deles em ganhar dinheiro".

Sua conclusão foi a de que "se cada um cuidar de promover os seus próprios interesses, o resultado será a prosperidade da sociedade como um todo".

Por que o padeiro não pede o preço que quiser pelo seu pão? Porque ele enfrenta a concorrência dos outros padeiros e assim tem que cobrar o preço que o mercado impõe. O mercado, segundo ele, é regido por uma "mão invisível" que estabelece todos os preços da economia em função da oferta e da procura existente.

__E o que se conclui disso tudo? Pergunta-me o Joãozinho.

__Que o Estado não deve interferir no mercado ou tentar fixar "preços justos", mas sim deixar que a economia, regida pela "mão invisível" - que nada mais é do que a interação permanente entre todos os indivíduos - caminhe por si só. A ganância inata das pessoas as torna engenhosas e empreendedoras, fazendo-as produzir produtos cada vez melhores por preços cada vez menores. É assim que surgem as novas tecnologias, se dá o progresso, e todos ganham com isso.

__Mas, pai - observa o Joãozinho. Na prática as coisas não se dão bem assim. Tem pessoas que já nascem ricas e poderosas. Como é que os pobres vão competir com elas? E se uma empresa sozinha dominar todo o mercado de um certo produto? Ela não vai impor o preço que quiser e deixar de investir em tecnologia?

__No capitalismo maduro é aí que entra o Estado. Quais são as suas funções? Prover Segurança e Justiça, proibir os monopólios, garantir a livre concorrência e obrigar o respeito à propriedade e aos contratos. Alem disso ele tem um papel importantíssimo que é o de promover iguais oportunidades para todos.

__Como assim?

__Essa é a base moral do capitalismo, meu filho. Cabe ao Estado garantir a "igualdade de oportunidades". O Estado deve prover Educação, Saúde e chances para todos os cidadãos, igualmente, independente de sua origem sócio-econômica. A partir daí, cada qual prospera de acordo com o seu próprio talentos e empenho. Para os menos capazes existe a proteção da seguridade social.

__Mas não é assim no Brasil, não é verdade?.

__Esta é a regra nos países capitalistas avançados. No Brasil, o verdadeiro capitalismo nunca existiu. Por aqui o Estado não garante aos indivíduos condições para que eles ascendam exclusivamente pelo seu próprio mérito e também não há uma eficiente rede de proteção social para proteger aqueles que, por razões diversas, são menos competitivos Além do mais nos falta algo indispensável que o economista Schumpeter definiu como "destruição criadora"...

__O que é isso?.

__O processo de "destruição criadora" é a base do progresso. Ele faz com que, no mercado, as tecnologias obsoletas e as empresas ineficientes sejam implacavelmente desafiadas e substituídas por novas empresas, mais competentes e com tecnologias mais avançadas. Os países comunistas - além de sufocar o ímpeto empreendedor dos indivíduos e impedir a ascensão de novos talentos - não contavam com esse instrumento e , por isso, as suas economias acabaram se estagnando e se inviabilizando. Essa falha, aliás, é também do Brasil. Para que as novas empresas e tecnologias possam florescer é preciso que haja financiamento em abundância. No nosso país, onde o crédito é caro e inacessível, não há o processo de "destruição criadora" e, portanto, há pouco desenvolvimento.

__A meta do comunismo era o da "igualdade total para todos". Qual é a do capitalismo?

__ A bandeira política do capitalismo - ou do liberalismo, que é a sua versão ideológica - não é a da igualdade forçada, mas sim a da liberdade individual e a da prosperidade geral. Qual é a sua meta? Simples:

'Um número cada vem maior de oportunidades para um número cada vez maior de pessoas"

Eu creio que o Joãozinho entendeu..."


Muito bom mesmo o texto. Interessante. Realmente acerta na premissa básica do capitalismo, calcado em sentimentos como ambição e egoísmo, comuns à grande maioria dos mortais. É isso que promove a engenhosidade do sistema e a sua constante reprodução, é a materialização de tais valores em forma de sistema econômico. Não nos moldamos ao sistema, ele que nasceu espontaneamente como resultado de nossas vontades.

Antes eu me importava com o sistema econômico. Sonhava com uma alternativa ao capitalismo, mas fui vendo que a outra opção também não era lá grande coisa. Hoje, não me importa mais qual é o sistema econômico, nem se o capitalismo é mesmo o único horizonte visível em termos de economia. Me preocupo sim com a falta de direitos básicos como saúde, educação, moradia, emprego. Me preocupo com os famintos (e eles existem), com os excluídos, com aqueles abandonados pelo Estado, deixados à própria sorte. Me preocupo com a violência que cresce a cada dia, com a ausência de políticas sociais. Me preocupo com a anomia de nossa sociedade, com o mundo que deixaremos para nossos filhos e netos.

Até tento ser diferente. Tento não me preocupar com nada, mesmo porquê não vai ser eu quem vai consertar o mundo, se é que precisa de conserto. Como estou longe de ser o dono da verdade, vai ver está tudo certo, e eu que me preocupo demais. Mas não consigo ser diferente, não sei o que acontece comigo. Vai ver, sou sensível demais, ou bobo demais. Mas prefiro ser assim, não dá pra fingir que não vejo nada.

E pelo amor de Deus, não venham me dizer pra fazer minha parte, porque eu tento...

terça-feira, outubro 12, 2004

 

Nascer e Morrer


Sempre tive uma relação meio "socrática" com a morte. Para mim, ou a morte era o fim de tudo, um eterno nada, e não haveria então motivo para preocupações, ou a morte seria o começo de tudo, uma nova vida, e aí também eu não teria motivos para me preocupar. Tenho plena consciência de que nasci para morrer, e isso é inevitável. Nem quero fica para semente. Procuro então, celebrar e aproveitar cada dia, cada instante, cada presença, cada momento, enfim, celebrar sempre as coisas boas que temos e que tornam nossa vida neste mundo mais suportável. Mas com o passar dos anos e dos acontecimentos, minha relação com a morte foi mudando um pouco. Fui ficando egoísta. Nunca tive medo da morte. Da minha morte, quero deixar bem claro. Mas me apavora a morte dos outros. Não suporto a idéia de que alguém que eu amo, possa partir antes de mim. Sim, me tornei um egoísta, e como tal, faço questão de morrer primeiro do que as pessoas que amo. Se elas vão suportar bem ou não, a minha ausência, aí já não posso fazer nada. O fato é que eu não suportaria continuar vivendo sem minha filha, por exemplo. Sei que isso foge do meu controle, mas para satisfação do meu egoísmo em relação à morte, espero que prevaleça a ordem natural da vida.

Ainda sobre a morte, duas notícias me entristeceram hoje: a morte de Christopher Reeve, o eterno Super-Homem, e a morte do escritor Fernando Sabino.

Reeve marcou, com suas interpretações, boa parte da minha infância, e ainda hoje me assusto quando vejo alguém dizer que ele fez o "primeiro" Super-Homem. Para mim não existiram outros, ele foi único. Dese 1995 (depois do fatídico acidente que o deixou tetraplégico), Reeve vem lutando contra todas as adversidades, se tornando um exemplo de força e coragem. Infelizmente, seu coração foi mais fraco, e o "homem-de-aço" faleceu...

O Rafael, hoje, postou uma crônica do Fernando Sabino, A Última Crônica. É um texto lindo, uma das primeiras coisas que li do Sabino, que me emocionou muito a primeira vez que li, e ainda me emociona sempre que releio (sim, sim... sou um sentimental, choro até com "sessão da tarde", só não deixo ninguém ficar sabendo). Claro que virei fã do Fernando Sabino, e desde então leio quase tudo que ele publicou. Dizem que ele foi alguém que escrevia sobre o "cotidiano". Pode ser, mas o "cotidiano" que Fernando Sabino colocava em suas crônicas era mágico. É o cotidiano que nossos olhos, acostumados à dureza do dia-a-dia, se recusam a enxergar...
Mineiro como ele só, sabia como ninguém falar dos mineiros, como podemos ver aqui:


Conversinha Mineira

Fernando Sabino



-- É bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo?

-- Sei dizer não senhor: não tomo café.

-- Você é dono do café, não sabe dizer?

-- Ninguém tem reclamado dele não senhor.

-- Então me dá café com leite, pão e manteiga.

-- Café com leite só se for sem leite.

-- Não tem leite?

-- Hoje, não senhor.

-- Por que hoje não?

-- Porque hoje o leiteiro não veio.

-- Ontem ele veio?

-- Ontem não.

-- Quando é que ele vem?

-- Tem dia certo não senhor. Às vezes vem, às vezes não vem. Só que no dia que devia vir em geral não vem.

-- Mas ali fora está escrito "Leiteria"!

-- Ah, isso está, sim senhor.

-- Quando é que tem leite?

-- Quando o leiteiro vem.

-- Tem ali um sujeito comendo coalhada. É feita de quê?

-- O quê: coalhada? Então o senhor não sabe de que é feita a coalhada?

-- Está bem, você ganhou. Me traz um café com leite sem leite. Escuta uma coisa: como é que vai indo a política aqui na sua cidade?

-- Sei dizer não senhor: eu não sou daqui.

-- E há quanto tempo o senhor mora aqui?

-- Vai para uns quinze anos. Isto é, não posso agarantir com certeza: um pouco mais, um pouco menos.

-- Já dava para saber como vai indo a situação, não acha?

-- Ah, o senhor fala da situação? Dizem que vai bem.

-- Para que Partido?

-- Para todos os Partidos, parece.

-- Eu gostaria de saber quem é que vai ganhar a eleição aqui.

-- Eu também gostaria. Uns falam que é um, outros falam que outro. Nessa mexida...

-- E o Prefeito?

-- Que é que tem o Prefeito?

-- Que tal o Prefeito daqui?

-- O Prefeito? É tal e qual eles falam dele.

-- Que é que falam dele?

-- Dele? Uai, esse trem todo que falam de tudo quanto é Prefeito.

-- Você, certamente, já tem candidato.

-- Quem, eu? Estou esperando as plataformas.

-- Mas tem ali o retrato de um candidato dependurado na parede, que história é essa?

-- Aonde, ali? Uê, gente: penduraram isso aí...



Saudades, Fernando...

domingo, outubro 10, 2004

 

O Terrorismo e os pseudointelectuais


Detesto aquele tipo de gente que adora posar de intelectual, arrotando conhecimento e arrogância. Geralmente não me dou muito bem com supostos "donos da verdade". Intelectuais de araque, tratam qualquer ato ou manifestação de repúdio contra o terrorismo como "verborragia sentimental". Desisti de explicar a estes "pseudo" a diferença entre valores pessoais e valores universais. É como disse o Guilherme Fiuza outro dia: estes pseudointelectuais, revolucionários de araque, relativizam tudo. Sofrem de verdadeira síndrome de relativismo. Vivem perdidos numa eterna dicotomia, só enxergando o mundo através do antagonismo político esquerda x direita.

Outro dia, comentei aqui sobre o massacre cometido por "terroristas" em Beslam, na Ossétia do Norte, quando centenas de crianças foram mortas, com mais de 700 feridos.
Claro que não podemos nos esquecer do pano de fundo que permeia tais acontecimentos. O massacre em Beslam foi, obviamente, uma resposta às atrocidades cometidas pelos russos em Grozny, uma pequena prova do seu próprio veneno. Os russos praticaram o "terrorismo de Estado", talvez a pior forma existente (se é que isso é possível).

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Milhares, milhares de civis foram mortos, assassinados em Grozny, pelo exército russo. A cidade foi completamente arrasada. Homens mulheres, crianças. Assassinados. Números do massacre falam em mais de 25.000 mortos nos dois primeiros meses de combate na cidade. Era de se esperar a resposta por parte dos chechenos.


Só gostaria de saber onde andam estes "pseudointelectuais", que escolhem quem sofre mais, quem é mais justo, ou quem tem razão, quando se trata de terrorismo, seja o "terrorismo de Estado (Rússia, EUA e outros) ou o terrorismo dos "militantes" (ou rebeldes, ou insurgentes, ou resistência, ou que diabos queiram chamar)...
Três cidades egípcias foram atacadas por estes "rebeldes", ou "militantes", ou qualquer outro nome que os pseudo queiram dar. Para mim continuam sendo cada dia mais terroristas.
Em Darfur, no Sudão, já são cerca de um milhão e meio de refugiados, e aproximadamente 50 mil teriam morrido. No massacre em Ruanda, outros milhares foram assassinados.

E o que fizeram os "pseudointelectuais"? O que falaram? Onde estava a sua indignação, a sua análise, os seus artigos, ou qualquer outra coisa que não fosse "verborragia sentimental", como acusam por aí? Eu não os vi. Deviam estar ocupados com algum mantra ou manual esquerdista de final de milênio. Vai ver, estavam aprendendo com o PT (e alguns petistas) sobre "Como mudar de opinião depois de ganha a eleição".
Enquanto o mundo se torna cada dia mais louco, com pessoas explodindo e atirando em crianças, pessoas degolando outras pessoas, países sendo invadidos e devastados por potências imperialistas, estes "idiotas" continuam se prestando a esse tipo de papel, desprovidos de qualquer tipo de compaixão, num esquerdismo do tipo "avestruz", sem nem saber direito onde é o buraco, tentando justificar tais bestialidades.
Bem vindo ao século XXI...

 

Eleições no Afeganistão


Juro que tentei acreditar e levar a sério as eleições diretas ocorridas no Afeganistão neste final de semana. Mas depois que fiquei sabendo que "todos" os candidatos desistiram das eleições por medo de fraude, "todos" menos o candidato apoiado pelos EUA, aí ficou muito difícil continuar acreditando.

Fazer o quê?


sexta-feira, outubro 08, 2004

 

Camada de Ozônio


O ozônio é um gás que filtra os raios ultravioleta do sol, que se chegasse à superfície da Terra com mais intensidade provocaria queimaduras e câncer de pele nas pessoas, além de destruir as folhas das árvores. Portanto, a camada de ozônio é uma barreira natural que nos protege contra tais perigos. Atualmente, relaciona-se o buraco na camada de ozônio com a emissão dos CFCs (clorofluorcarbonos), gases presentes em antigos aparelhos de ar condicionado e em diversos tipos de spray, que são liberados no ar. Uma vez presente na atmosfera, este composto é transportado para elevadas altitudes e é bombardeado pelos raios solares, o que causa a separação das moléculas de cloro e carbono. Os átomos de cloro, livres, destroem as moléculas de ozônio, formando então um buraco, por onde passam os raios ultravioleta.
Mas pode não ser bem assim...:

Notícia veiculada pelo Ambiente Brasil, de 04/10/2004, indica que houve uma diminuição de seis milhões de quilômetros quadrados no buraco existente na camada de ozônio, delimitado em 2004 em cerca de 23 milhões de quilômetros quadrados. O cálculo foi realizado pelo "Instituto Nacional de Pesquisas Atmosféricas da Nova Zelândia", sendo divulgado por aqui nesta semana.

Nada contra os neozelandeses ou quaisquer outros cientistas, mas temos por aqui, na "Terra Brasilis", um dos maiores estudiosos na área, de quem já falei em outra oportunidade. Trata-se de Luis Carlos Baldicero Molion, professor Phd do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal de Alagoas. O Molion é um de nossos maiores e melhores estudiosos sobre o clima, embora pouco (re)conhecido por aí. Vejam o que ele diz a respeito da notícia acima:

"Para complicar a situação dos que defendem, com propósitos escusos, que o homem possa destruir a Camada de Ozônio ou aumentar o "Buraco de Ozônio", este diminuiu depois de 1996.
Note que o ano de 1996 coincidiu com um "mínimo solar", ou seja, quando a atividade solar está num mínimo, o Sol produz menos radiação ultravioleta (UV) que é essencial para a produção de O3, i.e., menos UV, menor concentração de O3. O Sol atingiu um máximo (não tão máximo) de atividade em 2000 e as concentrações de O3 aumentaram. Em 2007-2008, o Sol estará num novo mínimo, menos UV, e o Buraco voltará a crescer. O máximo solar de 2000 foi suficiente para aumentar as concentrações globais de O3 em cerca de 3% acima da média. Um ponto interessante, é que existe um possível ciclo solar, de cerca de 90 anos (Ciclo de Gleissberg), que prevê que o Sol vai estar num grande mínimo de atividade ( minimum minimorum) nos próximos dois ciclos solares (próximos 22 anos), ou seja, de agora até os anos 2022-23, se se repetirem os ciclos anteriores (1890-1915 e 1800-1825).
Dessa forma, é possível que a camada de O3 naturalmente diminua em função do menor fluxo de UV. (Dentre as centenas de estudiosos - e consultores de indústrias de gases de refrigeração - será que só eu sei disso?!)
Será que acertarei minha "previsão"? E aí? Serão os "substitutos", ou os remanescentes dos CFCs, os causadores da diminuição (flutuação??) da camada de O3 no futuro? Esperar e ver o que acontece!
"

Damos muito pouco valor a nossos cientistas. Parece que temos um complexo de inferioridade incurável, profundamente enraizado em diversos setores. Copiamos modismos, repetimos à exaustão o que os outros dizem, mas somos incapazes de voltar os olhos para nós mesmos.
Aliás o Molion, em brilhante artigo, contesta a afirmação de que os CFCs sejam os verdadeiros destruidores da camada de ozônio, inclusive revelando supostos "interesses" que estariam criando um verdadeiro dogma em relação aos CFCs. Vale a pena dar uma lida.

terça-feira, outubro 05, 2004

 

Eleições Municipais


As eleições em Belo Horizonte transcorreram sem surpresas, de acordo com o cenário já traçado pelas pesquisas. Pela primeira vez, ficamos sem o segundo turno das eleições, com o candidato Pimentel sendo eleito com quase 70% dos votos válidos.
Pegando uma carona no post do Inagaki, por aqui os candidatos mais folclóricos, como "Papai Noel", Wendel "Bozo" e "Zói Bad Boy O Retorno", não tiveram muito sucesso, com exceção do Moamed Rachid (aquele do "12610, 12610, pare um pouquinho, vote certinho, 12610!!!)...
O Inagaki mostra que candidatos como a "Shana", de Aracaju/SE, "Larri", de Canela/RS ("o candidato que não passa a perna no eleitor"), "Sônia Perereca" e "Difunto", de Mogi das Cruzes/SP, entre outros, não conseguiram se eleger. A exceção fica por conta de Débora Soft, estrela de shows de sexo explícito em Fortaleza. A lista é grande, vá lá e confira.
O Guto tinha escrito outro dia a respeito do assunto também. E concordo com ele, as pessoas realmente gostam de votar em candidatos absurdos. Mas nessas eleições, esse "voto de protesto" não se fez presente através de nenhum candidato. O "voto de protesto" dos eleitores pôde ser sentido através do total de votos brancos e nulos, que em Belo Horizonte chegou a 152813 votos (candidatos a prefeito) e 143607 votos brancos e nulos (candidatos a vereador). Considerando que somos aqui em BH 1.680.169 eleitores, chegamos a quase 10% de "votos de protesto" nas duas opções.
Ainda sobre o voto de protesto, o Marcelo trouxe um dado interessantíssimo: numa cidade chamada Rosana, no Pontal do Paranapanema, o eleitorado decidiu anular seus votos: foram 9113 votos nulos, cerca de 67,51% do total de eleitores. O candidato mais votado teve 3621 votos, cerca de 85,06% dos votos válidos. Não sei se é o caso de convocação de novas eleições, pois me parece que votos brancos e nulos não são considerados votos válidos. A Lei 9.504, que estabelece as normas para eleições, diz no seu Art. 3º: Será considerado eleito Prefeito o candidato que obtiver a maioria dos votos, não computados os em branco e os nulos. Já a Lei 4737, A Lei do Código Eleitoral, diz no seu Art. 224: Se a nulidade atingir a mais da metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições estaduais, ou do Município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações, e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias.
Como não entendo muito bem do assunto, posso estar enganado. Vamos aguardar a decisão do TRE paulista.
De qualquer maneira, o que quero ressaltar é que até o nosso "voto de protesto" está mais maduro, mais eficiente. Parece que finalmente estamos levando as eleições a sério.

 

Sorrir é o remédio


Desculpem o mau gosto, mas não tem jeito. Esses caras são demais:

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sábado, outubro 02, 2004

 

Furacões e "Furacões"


Muito se falou sobre a "temporada de furacões" no Atlântico Norte, e a situação de caos e desastre sobretudo na Flórida, onde os prejuízos, calcula-se, cheguem a mais de 2 bilhões de dólares. A tempestade tropical "LISA" se transformou no oitavo furacão da temporada. Além de tal prejuízo, com a destruição de fazendas de gado, plantações, residências, ainda se contabiliza o trágico saldo de dezenas de mortos apenas neste Estado (números não-oficiais falam em 110 mortos). A grande maioria dos mortos está entre a população mais pobre, habitantes de casas modestas ou acampamentos com caravanas (mobiles homes).
O que pouca gente fala e mostra é que no Haiti, o país mais pobre do continente, apenas o furacão "Jeanne" causou a morte de aproximadamente 2.500 pessoas, além de praticamente arrasar a cidade de Gonaives. As poucas imagens veiculadas davam conta de enchentes, destruição e corpos espalhados pelas ruas, tamanha a fúria do ciclone. Jovens armados saqueavam caminhões que chegavam à cidade trazendo alimentos, numa situação que ameaça levar novamente o país ao caos.
Não se trata aqui, por favor, de discursos extremistas, como se a vida de alguém valesse mais ou menos por morar neste ou naquele país. São vidas que se foram, independente do país, raça, credo ou qualquer outra coisa. Se trata de se juntar ao lamento das vidas que ficam, e perguntar: até quando?
Triste sina. A exemplo do que acontece com os terremotos, a passagem dos ciclones acaba fazendo suas vítimas preferenciais entre os mais pobres, sem recursos ou possibilidades de optar por melhores condições de vida. Em tais catástrofes naturais, o maior número de vítimas está entre aqueles que possuem as condições mais precárias de sobrevivência. Seja num país rico ou num país pobre. Aqueles que alardearam e lamentaram a situação na Flórida, bem o fizeram. Mas não nos esqueçamos dos outros. O Haiti não é aqui, mas é logo ali...


 

Crônicas da Fronteira


Eis que descubro um poeta:

"Ele disse:
- O corpo é o verbo da alma.
Ela respondeu:
- Conjuga-me, então.
Pronomes, substantivos, adjetivos e onomatopéias misturaram-se sem regras gramaticais a noite inteira."

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