sábado, setembro 04, 2004

 

Barbárie em Beslam


A Chechênia se situa em uma região montanhosa, entre o mar Cáspio e o mar Negro, sendo habitada por diversos grupos étnicos, de maioria muçulmana. Sua capital é Grozny. É uma região importante para a Federação Russa, sobretudo por causa das ricas reservas de petróleo existentes no mar Cáspio. O contato entre russos e chechenos é antigo, datando do século XV ou XVI, mas sem maiores turbulências até a invasão russa na região que começa com "Ivan, O Terrível", passando por Pedro e Catarina.
Após forte período de resistência contra os russos (entre 1829 e 1859) e combates esporádicos, a Chechênia passa a fazer parte do Império Russo e, posteriormente, da URSS (União das Repúblicas Socialistas Sovièticas). Após o colapso da antiga União Soviética, os líderes chechenos declararam sua independência, fato que não é reconhecido por Moscou, que ainda a considera como parte da Federação Russa. Entre 1994 e 1996 tropas russas invadiram a Chechênia, numa tentativa de esmagar as forças que lutavam pela independênica da república. Acordos assinados neste ano (1996) garantiram um cessar-fogo, com o governo russo reconhecendo uma eventual derrota e oferecendo aos chechênios autonomia quase total, mas sem permitir a sua independência da Federação Russa. Após isso, as escaramuças continuaram, com diversos ataques terroristas por parte dos chechênios, seguidos de uma pronta resposta do exército russo.

Em 1995, os chechênios invadiram um hospital em Budyonnovsk, fazendo cerca de 1000 reféns. Uma atuação desastrada das tropas russas, permitindo a fuga dos terroristas, resultou na morte de cerca de 160 reféns, policiais e soldados.
Em 1999, rebeldes chechênios (militantes islâmicos) atacaram a república vizinha do Daguestão, matando cerca de 300 pessoas; como resposta, o exército russo invadiu novamente a Chechênia e tomou Grozny, destruindo a capital.
Após vários outros ataques, em 2002 os rebeldes chechenos invadiram um teatro em Moscou, fazendo cerca de 700 pessoas como reféns. As Tropas Especiais Russas invadiram o local após o início da execução dos reféns pelos terroristas. Um gás produzido a partir do ópio foi jogado no sistema de ventilação, e as tropas russas executaram os terroristas, que ficaram desacordados. Cerca de 115 reféns morreram por causa dos efeitos do gás, e todos os terroristas foram executados.

Na última semana, uma escola na cidade de Beslam, na Ossétia do Norte (um pequeno Estado na região do Cáucaso, sul da Rússia), foi tomada por terroristas, que mantinham mais de 1,2 mil reféns, entre crianças, professores e pais. A maioria da população da Ossétia do Norte é formada por cristãos ortodoxos, enquanto que na região a maioria dos outros Estados é formado por maioria muçulmana (Chechênia e Ingushétia, por exemplo).

Image Hosted by ImageShack.us

Ontem (sexta-feira), tropas russas invadiram a escola, entrando em combate com os sequestradores. Segundo a BBC Brasil, o número de mortos pode chegar a mais de 250, com mais de 700 feridos. Ainda não se sabe direito as origens do conflito, se partiu das tropas russas ou dos sequestradores. Tiros, explosões, gritos e correria começaram a acontecer assim que ambulâncias entraram no local para coletar corpos das vítimas que morreram durante a invasão da escola.

Image Hosted by ImageShack.us

Ainda segundo a BBC Brasil, alguns reféns contaram que foram obrigados a urinar em garrafas e beber a própria urina, tiros foram disparados para o teto quando bebês choravam e no mínimo 20 pessoas foram mortas pelos terroristas no primeiro dia do sequestro.

Image Hosted by ImageShack.us

O chefe regional da FSB (antiga KGB), Valery Andreyev, afirmou que entre os terroristas mortos estavam 10 árabes, reforçando uma suspeita do governo russo de participação da Al Qaeda no sequestro.

Emir Sader, em artigo publicado hoje, se limita a criticar a ação das forças de segurança russas no episódio, jogando o ônus da culpa no presidente russo Vladimir Putin e sua "guerra infinita", segundo suas palavras.
Declarações simplistas como a de Emir Sader não dão conta da explicação para o problema. Sader é suficientemente esclarecido para saber que a história russa mostra que, desde o tempo dos primeiros príncipes, os russos consideram essencial manter o Estado, ainda que digam que a prioridade seja os reféns. Foi assim em 2002, volta a se repetir em 2004. Sader exige ainda uma condenação à Putin pelas potências ocidentais, o que não aconteceu. Tanto os EUA quanto a União Européia isentaram o presidente russo de qualquer tipo de culpa.
Independente do tamanho do rabo preso que estas nações tenham com a Rússia, querer fazer de Putin o vilão da história, como sugere Emir Sader, vai ser bastante difícil. Com certeza Putin também é responsável, em virtude do fracasso de sua política para a região e da ineficiência de seus serviços de segurança. Desde que tomou posse, aumentou ainda mais a repressão e a violência contra os grupos rebeldes, tendo cometido várias atrocidades durante a segunda ofensiva contra os chechenos, em 1999. Com certeza, ver o governo da Rússia como apenas uma vítima é olhar bem superficialmente para a complexa questão que se tornou a luta dos chechenos pela sua independência contra os russos.

Por outro lado, ações covardes como a realizada pelos rebeldes terroristas, não têm nenhum tipo de justificativa. Lutando por uma causa nobre (independência), os rebeldes sequestradores se acharam no direito de explodir pessoas e assassinar crianças. Tiveram o fim que mereciam.


Comments:
Infelizmente o próprio homem, sustentado pela sua ideologia ou fanatismo religioso, convicto de seus ideais, está se auto-destruindo.
O efeito colateral é uma acontecimento inevitável, tendo em vista também que o os interesses individuais e econômicos da minoria, estão acima dos valores fundamentais, como o direito a vida, honra e a liberdade.
Quando vamos parar? Onde iremos chegar?
É chocante vermos crianças inocentes serem mutiladas sem que não exista nenhuma forma de se evitar. É triste, chocante, toca na nossa alma tanta crueldade humana. O Homem é Desumano.
 
Postar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?