quinta-feira, julho 29, 2004

 

"Aquilo" de bêbado não tem dono


A notícia é velha, todo mundo já comentou, mas vou repetir aqui porque foi um acontecimento completamente inusitado. Em Goiás, Luziano Costa da Silva havia acusado o amigo José Roberto de Oliveira de ter praticado ato libidinoso contra a sua pessoa, se aproveitando de um momento de embriaguez do mesmo. Em sentença publicada no último dia 06, o Tribunal de Justiça de Goiás decidiu que a pessoa que por sua própria vontade, participar de sexo grupal, não pode depois, se declarar vítima de atentado violento ao pudor. Digo mais: como diria o velho ditado popular, "aquilo" de bêbado não tem dono...

Vejam a notícia na íntegra, publicado pela Gazeta do Povo:


JULGAMENTO-Homem que teria abusado de amigo durante bacanal é absolvido

Justiça decide que orgia também deve ter regras

Quem participa de sexo grupal não pode reclamar do que acontecer

Brasília - A sentença é insólita e inédita. O Tribunal de Justiça de Goiás decidiu que o homem que, por vontade própria, participar de uma sessão de sexo grupal e, em decorrência disso, for alvo de sexo passivo, não pode declarar-se vítima de crime de atentado violento ao pudor. O acórdão do TJ de Goiás, publicado no dia 6, é um puxão de orelhas no autor da ação que reclamava da conduta de um amigo.

Luziano Costa da Silva acusou o amigo José Roberto de Oliveira de ter praticado contra ele "ato libidinoso diverso da conjunção carnal". Silva alegou que, como estava bêbado, não pôde se defender. Por meio do Ministério Público, recorreu à Justiça. Mas o Tribunal concluiu que não há crime, já que a suposta vítima teria concordado em fazer sexo grupal

O acórdão dos desembargadores é categórico: "A prática de sexo grupal é ato que agride a moral e os bons costumes minimamente civilizados. Se o indivíduo, de forma voluntária e espontânea, participa de orgia promovida por amigos seus, não pode ao final do conturbérnio dizer-se vítima de atentado violento ao pudor. Quem procura satisfazer a volúpia sua ou de outrem, aderindo ao desregramento de um bacanal, submete-se conscientemente a desempenhar o papel de sujeito ativo ou passivo, tal é a a inexistência de moralidade e recto neste tipo de confraternização".

Para o Tribunal de Justiça do estado, quem participa do sexo grupal já pode imaginar o que está por vir e não tem o direito de se indignar depois. "(...) não pode dizer-se vítima de atentado violento ao pudor aquele que ao fim da orgia viu-se alvo passivo de ato sexual", concluíram os desembargadores.

Segundo o inquérito policial, no dia 11 de agosto de 2003, após ter embriagado Silva, Oliveira teria abusado sexualmente do amigo. Em seguida, teria levado o amigo e sua própria mulher, Ednair Alves de Assis, a uma construção no Parque Las Vegas, em Bela Vista de Goiás. Lá, teria obrigado a mulher e o amigo a tirar suas roupas e a manter relações sexuais, alegando que queria "fazer uma suruba". Em seguida, Oliveira teria mais uma vez se aproveitado da embriaguez do amigo e praticado sexo anal com ele.

Oliveira foi absolvido por unanimidade pela 1.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás, que manteve a decisão da primeira instância. Segundo o relator do caso, desembargador Paulo Teles, as provas não foram suficientes para justificar uma condenação, pois limitaram-se a depoimentos de Silva e de sua mãe. Em seu depoimento, Ednair confirmou que Silva teria participado da orgia por livre e espontânea vontade.

Para o magistrado, todos do grupo estavam de acordo com a prática, a qual definiu como desavergonhada.
"A literatura profana que trata do assunto dá destaque especial ao despudor e desavergonhamento, porque durante a orgia consentida e protagonizada não se faz distinção de sexo, podendo cada partícipe ser sujeito ativo ou passivo durante o desempenho sexualmente entre parceiros e parceiras. Tudo de forma consentida e efusivamente festejada", esclareceu o relator.



quarta-feira, julho 28, 2004

 

Cotidiano



Mais uma contribuição do geógrafo Leonardo Dias para este blog:


O Cotidiano

Hoje ao sair de casa olhei para o céu e percebi como o dia estava diferente; um lindo dia ensolarado numa manhã de inverno. Parece até poesia falar deste jeito, mas comecei a pensar que hoje em dia algumas situações tão simples e tão prazerosas deixamos de lado devido a tanta correria do nosso dia a dia. Olhar para o céu é uma delas, afinal você já contemplou o céu hoje ?
Vivemos em uma corrida frenética, um sintoma da vida moderna onde tudo passa e acontece tão rápido que olhar a natureza, as serras, a chuva, a vegetação ficou para quando der tempo; o importante hoje é a bolsa de valores, quanto vale o dólar, o preço da gasolina, o trabalho e todas as contas que temos que pagar no fim do mês. É, estamos sendo sufocados pelo capitalismo selvagem, estamos perdendo a sensibilidade pelas coisas simples. A busca do ter cada vez mais, de se equilibrar no que já conquistou, de tratar algumas pessoas que estão do seu lado não como companheiros, mas como concorrentes, de as vezes não ter tempo para a família é a tônica da vida moderna que vem ao longo dos tempos passando pelo processo de mutação proporcionado pelo sistema capitalista.
Nós, geógrafos, aprendemos a analisar de maneira mais crítica e compreender o porquê de tudo isto estar acontecendo; é nossa obrigação esclarecer e não culpar as pessoas que acham que a vida só tem sentido pelo lado material. Estas pessoas não são culpadas de pensar assim, pois desde cedo foram moldados para isto.

A recomendação para uma vida melhor é: Contemple o simples, olhe a sua volta, busque sempre algo mais, enfim, seja feliz.

Texto a partir da visão de um Geógrafo.
Leonardo Dias
22/07/2004
ldias74@uai.com.br



segunda-feira, julho 26, 2004

 

Brasil e Haiti


Além de ter enviado tropas militares numa missão de pacificação para o Haiti, o Brasil também vai enviar para lá a seleção brasileira. Parece que a data do jogo seria dia 18 de Agosto. Vejo nas matérias de jornais e revistas referenytes ao assunto, uma certa preocupação com a segurança no local. Me parece que o estádio (se é que se pode chamar assim), além de instalações modestas e gramado de péssima qualidade, tem capacidade apenas para 15 mil torcedores, segundo a Folha. Que seja mais. A verdade é que muito mais gente que isso vai querer ver o jogo da seleção brasileira por lá. Para não correrem o risco de milhares de pessoas tentando disputar um lugar no estadio, vários telões serão instalados em Porto Príncipe, para que as pessoas não precisem se deslocar ao estádio. Estima-se que talvez cerca de um milhão de pessoas pudesse tentar assistir ao jogo. Enfim, todo um aparato será montado, segundo o governo brasileiro, visando a segurança dos jogadores e principalmente da população haitiana.

Tropas militares no Haiti não são novidade, e se isso resolvesse alguma coisa, a situação do país deveria ser bem diferente do que é hoje. No momento, são realmente necessárias, dada a violência que tinha se espalhado pelo país na forma de uma sangrenta guerra civil. Grupo sarmados se enfrentavam na capital e no restante do país, uns contra, outros a favor o presidente deposto Jean Aristide. Outros grupos também se armaram na expectativa de abocanhar fatias de poder com a deposição do presidente. Tal missão pode ser questionável, pois está ali para garantir uma operação militar que derrubou um presidente eleito democraticamente. Questionável, mas uma intervenção talvez necessária.

Jean-Bertrand Aristide foi padre católico, adepto da teologia da libertação. Aqui começa a ironia. Ferrenho opositor de "Baby Doc", um ditador instalado no poder, após a queda e exílio do mesmo Aristide foi era visto pelo povo haitiano como o "salvador da pátria", sendo eleito presidente em 1990. Foi deposto por um golpe de estado em 1991 realizado por militares rebeldes, voltando ao poder em 1994 após intervenção militar americana. Após isso, começou a ser repudiado pelo povo, acusado de corrupção, enriquecimento ilícito e mandar assassinar seus opositores.

A situação da população é de pobreza extrema, miséria e abandono. Talvez aí esteja o verdadeiro fracasso de Aristide, de não ter conseguido melhorar a qualidade de vida da população. Neste cenário de desolação e caos social, o Haiti talvez precise mesmo da missão de paz liderada pelas tropas brasileiras. Mas além de militares, a ONU e os países que compõem a missão (Argentina, Chile) contribuiria muito levando para o país professores, médicos, dentistas, enfermeiros, entre outros. E logo, antes que a parte da ilha Hispaniola, ocupada pelo Haiti, se desintegre, e reste apenas a República Dominicana para fazer a história.


sábado, julho 24, 2004

 

Dos políticos


Recebi por email, de um amigo:

Os políticos são como as fraldas. Devem ser trocados constantemente. E sempre pelo mesmo motivo.

 

Reflexo de uma consciência (condicionada)


A respeito da minha matéria publicada no Observatório da Imprensa, recebi um email do Homero, que reproduzo abaixo:


O reflexo de uma consciência (condicionada).

Homero Mattos Jr.


Em outubro do ano passado (2003) a revista The Economist publicou uma matéria a respeito da chamada Crise do Petróleo.

Mais especificamente, sobre as previsões de esgotamento das reservas petrolíferas por volta do ano 2040.

Em meados do mês passado (maio) a revista Carta Capital retomou o tema como matéria de capa (estampando a mesma foto publicada em The Economist - uma bomba de gasolina destroçada pelo Tempo).

Esta semana (com um 'teaser' na capa n. 1857, sem fotos) foi a vez de Veja[1] .

Com a argúcia e isenção ímpar que a distingue das outras publicações citadas acima, Veja me fez saber que “por um capricho da natureza, as maiores reservas (de petróleo) estão concentradas em áreas politicamente complicadas.”

Lembrei-me então da piada sobre os ratos da experiência pauloviana que, dentro de uma caixa, ficam intrigados com o fato de lhes servirem pedaços de queijo e soar uma campanhia todas as vezes em que estão famintos.

Em seguida pensei: 'Puxa! Mas que falta de sorte, hein? (A nossa.) Se ao menos se complicassem politicamente áreas sem reservas de coisa alguma...'

Mas não. Entra década, passa década, uma hora é o Sul (ou o Centro) africano com os seus diamantes e ouro, outra hora é o Rühr (ou a Manchúria) com suas reservas de carvão...

A Natureza é mesmo caprichosa, como bem conclui o perspicaz redator da matéria.

Senão vejamos: minas, jazidas, rotas... onde quer que esteja a energia capaz de conferir poder ao Império da vez... eis aí (sempre!) uma área complicada politicamente...

Verdadeiro ‘azar’. De fato.

Que há nos deuses que não nos deixam viver tranqüilamente?

Vejamos, por exemplo, o caso do Oriente Médio: lá, árabes e judeus -durante quase 2 milênios- jamais tiveram problemas de convivência. Ao contrário.

Nem lá, nem na Espanha moura.[2]

Mas então... no caprichoso período em que o fordismo estava acabando de arregaçar as mangas -pronto a convidar, para um ‘giro’ mundo afora, as debutantes irmãs petrolíferas- ocorreu a canhestra divisão dos antigos territórios turco-otomanos no Oriente Médio de 1917... Outra falta de sorte!

E não houve sionismo que desse jeito.

Em seguida, aconteceu o que estamos a ver.

Mas não há nada a temer. Veja garante.

“...ainda não falta petróleo.” Pra quê se preocupar agora?

“...em países como os Estados Unidos, a economia está cada vez mais relacionada a serviços e menos a indústria.” O que aconteceu com a indústria!?! Para onde ela foi!?!

“No passado, o crescimento econômico era diretamente proporcional ao consumo de petróleo.” Ah tá! Isso acontecia antigamente... Hoje não.

Mas... e os serviços ? São relativos a quê?

Ora, mas que bobagem!

Ficou eu a me preocupar com argumentos que para Veja são últimos.

Tão últimos que, declarações alarmantes como a de um ex-ministro do Meio Ambiente britânico e de um ex-presidente da Exxon-Mobil, são mencionadas no final da última página, da última das três matérias sobre o tema.

Quem tiver tempo e interesse que leia. Se quiser.



"A Idade da Pedra não acabou por falta de pedras", mas por expansão da Consciência Humana.

Não sei se o autor da frase (o Sheik Yamani -antigo ministro saudita do petróleo) a isto pretendia ilustrar, precisamente.

Mas esta é a causa eficiente que encerra todas as Eras ou Idades históricas. Não há outra. Assim caminha a humanidade.

Mas até que possa prevalecer a maior consciência (ou mais inteligência) a constelar-se e a caracterizar o período histórico seguinte, esta nova mentalidade deverá impor-se sobre a menor consciência (ou menos inteligência) vigente no período anterior.



Seguindo sem saber a máxima do controvertido Saulo de Tarso (‘quando era criança raciocinava como criança, quando cheguei a ser homem, deixei as coisas de criança agora inúteis.’[3]) parei de ler Veja.

Já há muito tempo.

Porém...

Embora no limiar, nós não estamos, propriamente, em uma nova Era.

E Veja, encontra-se em toda parte.

Ainda.


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[1] em 9 de junho de 2004 edição 1857 ano 37 n.23 p. 116-126

[2] "Os muçulmanos da Espanha deram aos judeus o melhor lar que eles jamais tiveram durante a diáspora, de tal modo que a expulsão dos judeus da Espanha (em 1492) foi pranteada pelos judeus de todas as partes do mundo, como o maior desastre ocorrido a seu povo desde a destruição ( pelos romanos) do Templo no ano 70." in Armstrong, Karen ‘A History of God - from Abraham to the Present: the 4000-year Quest for God’ p. 297 1a.ed. Mandarin Paperbacks London 1994

[3] in São Paulo, Primeira Epístola aos Coríntios cap.13, v.11-12 p.1365 Bíblia ed. Vozes, Petrópolis 13a. edição 1982



Koyaanisqatsi

http://homeromattosjr.blogspot.com


quinta-feira, julho 22, 2004

 

Outra matéria no Observatório da Imprensa


Foi publicado no site do Observatório da Imprensa, mais um texto meu, que também tinha sido publicado aqui no Blog. O texto é sobre uma matéria da revista "Veja", intitulada "O barato pode sair caro". Para quem quiser conferir, é só clicar aqui neste link.

 

Papel da Amazônia na mudança do clima


Brasília será palco, entre os dias 27 e 29, da terceira conferência de climatologia do Projeto Experimento de Grande Escala para a Salvação da Biosfera/Atmosfera da Amazônia, a LBA (ufa, que nome comprido, hem?).
Anteriormente eu já havia postado aqui sobre a influência das queimadas na região amazônica, que colocavam o Brasil entre os maiores emissores de CO2 do mundo.
Durante a LBA, serão discutidas as influências do desmatamento da Amazônia (provocado sobretudo pelas queimadas) e as suas consequências, como perda da biodiversidade e aumento do aquecimento global. Estarão presentes representantes de diversos órgãos como o Inpe, Embrapa, Ibama, Usp, universidades federais do Pará, Amazonas e Rio de janeiro e algumas estrangeiras (Harvard e Oxford), além de organizações não governamentais (ONG's).
Carlos Rittl, membro da direção do Greenpeace no Brasil, alerta que as queimadas na Amazônia promovem alterações climáticas não apenas na região, mas em lugares como o Sul e o Sudeste do país, provocando mudanças nos regimes de chuva destas regiões. Tal afirmação pode ser comprovada por diversas pesquisas; um destes estudos foi realizado pelo CEPETEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos), órgão do INPE, em parceria com a USP. No estudo, foi demonstrado que o regime de chuvas nas regiões Sul e Sudeste depende muito da umidade trazida da Amazônia pelos ventos; com a redução dessa umidade pelas queimadas, a tendência é que o volume de chuva nessas regiões caia ainda mais, o que por sua vez aumentaria consideravelmente a poluição atmosférica nos grandes centros urbanos.

terça-feira, julho 20, 2004

 

Matéria no "Observatório da Imprensa"


Tinha até esquecido de comentar aqui. O site Observatório da Imprensa, publicou um texto meu, na sua última edição. O texto foi postado aqui, e trata sobre a censura no jornal "Estado de Minas". Quem quiser pode conferir, aqui no Blog ou neste link.

 

Alguém mais?


"...Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando, como um cruzado, pelas causas que comovem. Elas são muitas, demais: a salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o socialismo em liberdade, a universidade necessária. Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que venceram nessas batalhas."

Darcy Ribeiro


 

Rapidinha


A vida não tem ensaio. Viva.

domingo, julho 18, 2004

 

Outra do "Reino das Metáforas"


Pela quadragésima oitava vez, Lula pediu ao povo paciência. Pior.
Pediu ao povo "paciência de mulher". Fico me perguntando que diabo será isso?
Onde está escrito que mulher tem ou deve ter mais paciência que homem? Isso foi um elogio, ou o primeiro mandamento da cartilha "Machões do Brasil", que o presidente carrega dentro do bolso?
Mais. Lula acha que eu sou idiota. Eu, você, todos aqueles que votaram nele, e os que não votaram também. Agora deu pra dizer que os problemas do Brasil não se resolvem em 2, 4 ou 8 anos de governo. Isso o idiota aqui já sabe. Não votei no Lula por isso. Votei nele pra ele fazer alguma coisa, além das intermináveis viagens, churrascos, festas e outras palhaçadas mais.
Estou cansado de tanta ladainha. Estou cansado de tanta lerdeza, de tanta falta de idéias, de tanto discurso recheado de metáforas. Estou cansado de parábolas.
E me faça o favor, senhor Presidente. Ainda é muito cedo pra abrir caminho pra reeleição. Governe. Faça alguma coisa antes.


 

Oceanos absorvem boa parte do CO2 lançado no ar


A quantidade de dióxido de carbono (C02) jogada na atmosfera por combustíveis fósseis e pela produção de cimento, o chamado C02 antropogênico, aumentou 35% entre 1800 e 1994. Pelos cálculos, esta quantidade deveria ser aproximadamente o dobro.

A resposta para essa diferença foi dada por Christopher Sabine do National Oceanic Atmospheric Administration (Noaa) principal autor de artigo sobre o tema publicado na revista Science (www.sciencemag.org). Segundo ele, "os oceanos absorveram 48% do C02 emitido por nós para a atmosfera nos últimos 200 anos".

No estudo, os cientistas analisaram dados de três projetos de pesquisa dos anos 90 - World Ocean Circulation Experiment (Woce), Joint Global Ocean Flux Study (JGOFS) e Ocean-Atmosphere Carbon Exchange Study (Oaces) - e chegaram a essa conclusão. Para quem quiser saber mais detalhes, confira matéria no Estadão.

Falando em CO2, as queimadas na região norte do Brasil colocam o país entre os maiores emissores de CO2 do mundo, ao lado de EUA, China, Rússia e Japão. Segundo dados de um estudo de um grupo de cientistas da UnB, Unesp e Inpe, as queimadas na Amazônia lançam cerca de 0,2 bilhão de toneladas de carbono na atmosfera.

Como se sabe, o CO2 é um dos principais responsáveis pela elevação da temperatura global (intensificação do efeito estufa); além de mais CO2 na atmosfera, estamos contribuindo, de maneira perversa, para o aumento deste mesmo CO2 pelos oceanos, como foi dito acima.

Sem falar, é claro, na devastação ambiental resultante das queimadas, com desequilíbrios para o ecossistema e perturbações nos microclimas da região, entre outras.


sexta-feira, julho 16, 2004

 

Artigo do geográfo Leonardo Dias



Recebi do meu amigo Leonardo Dias:


Violência, caos social

Lendo os jornais da semana passada , fiquei abismado como a violência está cada vez mais comum em nossa sociedade; fato que ao longo dos anos vem acontecendo com tanta intensidade que já estamos quase insensíveis aos horrores que presenciamos achando cada vez mais comum todo tipo de violência. Sempre quando lemos, assistimos ou ouvimos os noticiários sobre o mundo, o fato em destaque é a violência, principalmente no Oriente Médio, devido aos acontecimentos atuais que dividem a opinião pública e que nos fazem refletir um pouco sobre o sentido da vida. Aí pergunto: o que é a vida para estas pessoas que lá vivem, que sentido tem a vida para estas pessoas que a todo momento percebem a morte chegando cada vez mais perto. Nós brasileiros não encontramos respostas e tão cedo vamos encontrar, pois graças a Deus não chegamos neste estágio desumano de uma cultura tão diferente da nossa.
No Brasil a violência vem tomando proporções enormes e bem debaixo dos nossos olhos. Esta sim temos condições de entender e combater por estarmos inseridos nela. É hora de fazermos algo pelo futuro da nossa sociedade que está cada vez mais desacreditada e com medo. Não podemos achar tudo isto comum e somente aprender a conviver construindo muros altos, comprando os mais modernos sistemas de segurança. Isto tudo são medidas paliativas e não solução do problema. O que precisamos é de um governo mais atuante, não no sentido de colocar o exército na rua, mas de criar alternativas para pelo menos amenizar o caos que estamos vivendo. Temos que fazer alguma coisa, e na minha opinião além de algumas medidas como desarmamento, campanhas educativas, investir em educação é um ponto primordial para sairmos deste momento tão complicado pelo qual estamos passando.
"Lutar" por uma sociedade mais humana, creio que este deve ser o objetivo de todos aqueles que acreditam em mundo melhor.

Data: 15/07/204
Texto: Leonardo Dias - Geógrafo
Email: ldias74@uai.com.br


quarta-feira, julho 14, 2004

 

A hipocrisia da revista "Veja"


A revista "Veja" continua tratando seus leitores como idiotas. Na edição do último final de semana, a revista traz matéria assinada pela jornalista Paula Neiva, intitulada "O barato pode sair caro", tratando sobre os preços dos medicamentos no Brasil. A matéria diz que o preço dos medicamentos no Brasil é um dos mais baratos do mundo, graças à nosso baixo poder aquisitivo e graças ao controle dos preços exercido pelo governo. A partir daí, a jornalista passa a fazer uma crítica a essa situação, começando pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), órgão do Ministério da Saúde que controla os preços dos medicamentos. A matéria também fala sobre os investimentos da indústria farmacêutica no país, que teriam diminuído em função dos baixos preços e da ameaça de quebra de patentes, comparando o Brasil com a China (país que pratica a quebra de patentes sem maiores constrangimentos). Por fim, a "reportagem" faz uma crítica em relação à tributação dos remédios no Brasil, que chega a cerca de 27% do preço dos remédios.

*       *       *

Muito estranha a "reportagem". No mínimo estranha. Fico me perguntando quais os interesses que estão por trás da publicação de uma matéria como esta na revista Veja.
Primeiro, desde quando remédios com preços mais baixos são um problema? Podem ser um problema para os fabricantes de remédio, mas com certeza não é problema para os aposentados, doentes, pensionistas, que gastam boa parte do que recebem com medicamentos. Para estes, os preços não são assim tão baixos.
Em segundo lugar, ainda bem que o preço dos remédios é controlado através do CMED, controle este que é feito baseado em uma cotação de preços internacional. Nós sabemos muito bem o que acontece com o preço dos remédios quando tal controle não é exercido. Pra melhorar ainda mais nossa situação, a entrada dos genéricos foi outro fator positivo, com preços até 40% menores que o produto original. Sinceramente, continuo não entendendo onde está o problema, conforme a matéria da Veja.
Terceiro, a reportagem faz menção à ameaça de quebra de patentes que paira sobre os laboratórios, comparando a política brasileira no setor a um país de regime totalitário como a China. Tal afirmação beira o absurdo. Todos somos testemunhas da luta do país pela quebra de patentes para os remédios da AIDS, movido sobretudo por questões humanitárias. A revista Veja talvez não saiba, mas milhões de pessoas morrem no mundo vítimas da doença e dos altos preços dos medicamentos contra a AIDS. Ou a jornalista Paula Neiva não conhece muito bem o país em que mora, ou está fazendo terrorismo, numa tentativa de pressionar a CMED ou o Ministério da Saúde. A pergunta é: quais os interesses que motivaram a jornalista e a revista Veja a fazer comparações tão absurdas? Como comparar os benefícios humanitários com a quebra das patentes dos remédios contra a AIDS com a perda financeira dos laboratórios? Como comparar o Brasil e sua política na área da saúde, com o que acontece na China?
Finalmente, a matéria fala sobre a tributação dos remédios no país. Realmente, quase 30% de impostos embutidos no preço dos remédios é um absurdo, e tal situação deve mesmo ser revista. Mas não para aumentar a margem de lucro dos fabricantes, como quer a reportagem, e sim para fazer com que nossos medicamentos tenham preços ainda mais acessíveis à toda população.

Como podemos perceber, a revista Veja, através da matéria, prestou mais um desserviço para seus leitores. Nada contra publicar matérias que atendam aos interesses da indústria farmacêutica, mas fazer afirmações levianas e desinformar a população, isso a Veja não tem o direito de fazer.

terça-feira, julho 13, 2004

 

A Banda (versão atualizada)


Não sei quem é o autor, recebi por email... mas me permito reproduzir, homenageando a criatividade e a criticidade:


A Banda
(letra atualizada)


Estava puto da vida
Quando o PT me chamou
Pra ver a coisa mudar
Com Lula paz e amor
A minha gente sofrida
Então no Lula votou
Pra ver a coisa mudar
Cantando coisas de amor
O empresário que já tava quebrando votou
O operário que nem tava jantando votou
A estudantada que não tinha escola votou
Para ver, ouvir e dar passagem
O camponês há muito tempo calado sorriu
O nordestino que já tinha murchado se abriu
E a igrejada toda se assanhou
Pra ver o Lula mudar
O que Fernando estragou
O aposentado se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A professora debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A arenga velha se espalhou na avenida e insistiu
A militante que vivia escondida surgiu
A minha pátria toda se enfeitou
Pra ver o Lula mudar o que Fernando deixou
Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo ficou no lugar
Depois que o Lula chegou
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois do Lula chegar
Cantando coisas de amor.

 

Urbanização e "Ilhas de calor"



O desenvolvimento econômico e populacional provoca vários tipos de impacto no clima, entre eles o surgimento das chamadas "ilhas de calor", geralmente um fenômeno típico das grandes metrópoles.
As ilhas de calor ocorrem nos grandes centros devido à vários fatores, tais como:
- maior absorção de calor das superfícies urbanas como asfalto, concreto e aço;
- diminuição da presença da vegetação, o que diminui o albedo (relação entre a radiação refletida e a incidente) e a evapotranspiração;
- impermeabilização dos solos, diminuindo a evaporação;
- poluição atmosférica (aumentando o efeito estufa), entre outros.

É um problema resultante da intervenção direta do homem no ambiente, que contribui também para piorar ainda mais a qualidade de vida nos grandes centros.


domingo, julho 11, 2004

 

Desejo Mimético


Jung Mo Sung é professor da USP/SP. É dele o texto "Desejo mimético, exclusão social e cristianismo".
Vou tentar resumir o que o professor diz neste texto. Para o professor, face ao enorme contraste entre pobreza e riqueza, seria normal se ouvir como solução um apelo à distribuição de renda. Tal reivindicação seria uma das características principais do discurso social presente no programa econômico da CNBB, por exemplo. Tal justificativa para o apelo se encontra no predomínio do modelo econômico voltado para acumulação de riquezas, em detrimento de um modelo voltado para a superação da pobreza.
Segundo Jung Mo Sung, a resolução dos problemas sociais passa pela questão da "Necessidade versus Desejo". Necessidade seria o necessário para uma vida digna, um limite entre "ter de mais" e "ter de menos". Teorias econômicas liberais e neoliberais seriam pensadas, então, em termos de satisfação dos desejos, em detrimento das necessidades. Com o fim das "necessidades", teríamos um homem de "desejos".
A imitação de padrões de consumo de países ricos acentuaria o dualismo social, e o progresso tecnológico causaria ainda uma maior concentração de renda e aumento dos níveis de exclusão, segundo o professor.
Assim, o desejo é trabalhado, moldado, transformado num "desejo mimético", cuja estrutura básica consistiria num desejar um objeto não pelo objeto em si, mas pelo fato de que outro deseja. Mimético: imitação. Dessa maneira, a insatisfação dos desejos insatisfeitos gera rivalidades e corrida ao consumo, sendo necessário a criação de novos objetos de desejo, que acelerariam e reiniciariam o processo.
A manutenção e perpetuação do modelo vigente seria garantida: através da esperança de todos em verem seus desejos realizados; no fato de que os desejos miméticos não serem reprimidos, e sim incentivados, sendo o sentimento de culpa pelo fracasso internalizado pelos pobres; e finalmente, através do mito dos "sacrifícios necessários" ao progresso, utilizado em momentos de crise do sistema.
Ainda segundo o professor, o processo de secularização eliminou ou deslocou o sagrado para o mercado, com as religiões deixando de ser o fundamento da ordem social. Além disso, a transformação das necessidades em desejos se daria através da doutrinação da propaganda, que cria novos objetos de desejo, utilizados como condições para se pertencer a algum grupo social.

* * *

Muito interessante mesmo o ensaio/artigo do professor Jung.
Traz algumas idéias novas, que contribuem com novos olhares sobre problemas como exclusão, distribuição de renda e sociedade. Apenas algumas idéias me parecem equivocadas e/ou distorcidas.
Na verdade, o sistema não é excludente porque nem todos conseguem realizar seus desejos; ao contrário, nem todos conseguem realizar seus desejos porque o sistema é excludente. Essa sim seria a premissa básica do sistema.
A questão do desejo mimético é muito próxima de uma análise que pode ser feita sobre o arcabouço psicológico do capitalismo: ambição, egoísmo e inveja.
O desejo mimético seria um de seus pilares, uma das estruturas do sistema, e não uma novidade em si. Desde que o mundo é mundo e o homem desceu das árvores (ou foi criado por Deus, como queiram), o homem deixou de ser apenas um ser de necessidades. Somos mais do que instinto. O desejo é algo inerente ao ser humano. Desejávamos as melhores cavernas, as melhores caças, os melhores sítios... apenas nosso objeto de desejo foi se sofisticando e diversificando com o tempo, mas somos sim seres incompletos e desejar faz parte de nossa natureza (assim como nossas necessidades, nossos instintos).
Não vou nem me aprofundar na questão da ética protestante versus os valores católicos, por demais polêmica, mas que traz a tona maneiras diferentes e contraditórias de ver o mundo.
Uma solução sugerida no texto seria tirar de quem tem para dar a quem não tem. Isso assusta, principalmente nos dias de hoje. Não faz mais sentido nenhum, a não ser para os partidários do PSTU.
Não dá para ficar condenando eternamente quem tem alguma coisa à fogueira. O problema não é alguns terem. O problema é proporcionar aos outros a chance real de terem também.


quinta-feira, julho 08, 2004

 

"Reino das metáforas", o retorno


Tem uns sites/blogs que visito com frequencia. O do Noblat é um deles. Sempre tem alguma notícia nova, ainda não divulgada, algum assunto que passa longe da mídia, algum detalhe da vida política e econômica do país que vale a pena conferir.
Mas o Noblat tem outras qualidades, além de escrever bem. Uma delas é seu humor refinado... observem:

Pode parecer implicância, mas não é.
Lula ontem se queixou do Congresso. E na mesma ocasião não se queixou. Vejam se estou interpretando errado o que ele disse:
- As coisas nunca andam rápido como eu gostaria que andassem. Muitas vezes você manda um projeto de lei, imaginando que em dois meses ele será aprovado. Acontece que, como o Congresso é a representação da estrutura democrática da nossa sociedade, aparece alguém lá e resolve fazer uma emenda numa coisa. E aquilo demora mais que o tempo necessário. Mas faz parte do jogo e a gente não pode ficar reclamando.
A queixa: "As coisas nunca andam rápido como eu gostaria que andassem. Muitas vezes você manda um projeto de lei, imaginando que em dois meses ele será aprovado."
A não queixa: "Acontece que, como o Congresso é a representação da estrutura democrática da nossa sociedade..."; "Mas faz parte do jogo e a gente não pode ficar reclamando."
Lula é dialético.


Essas e outras pérolas podem ser conferidas no ótimo site do jornalista Ricardo Noblat. Visitem.

terça-feira, julho 06, 2004

 

Saeb, Sintoma William Moreira e a educação


Os dados revelados pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), no mês de Junho, revelam como é preocupante a situação dos alunos que frequentam o ensino fundamental no Brasil. A respeito do assunto, o psicólogo mineiro Carlos Perktold defende que grande parte deles seja portador de um problema chamado "sintoma William Moreira", batizado assim em homenagem aos apresentadores William Bonner e Cid Moreira.

Segundo o psicólogo, os portadores deste sintoma teriam uma característica peculiar: entendem apenas o que ouvem e não o que lêem. Tal fenômeno seria o resultado da modernidade, onde as imagens (computador, televisão) praticamente atropelaram o texto. Tais pessoas são bem informadas sobre o que ouviram, mas nunca lembram do que leram.

Claro, não dá pra ancorar o resultado da pesquisa apenas no "sintoma William Moreira". Boa parte destes jovens também podem ser enquadrados no analfabetismo funcional, vítimas, sobretudo, de professores mal-preparados, escolas sem infraestrutura e condições sociais adversas. Ainda que ser professor não seja tarefa das mais fáceis hoje em dia, devido aos baixos salários e às condições de trabalho ruins, o número de profissionais atuando que não tem nenhum tipo de compromisso com a educação é assustador.

Acredito que profissionais melhores preparados, salários justos e boas condições de trabalho iriam contribuir muito para reverter o quadro. Além disso, incentivar nossos filhos e alunos a ler mais, diminuindo o efeito "emburrecedor" que a televisão exerce, com certeza traria grandes benefícios.

Fonte: Carta Capital


segunda-feira, julho 05, 2004

 

Censura no jornal Estado de Minas


Primeiro Alberto Dines, censurado e demitido do Jornal do Brasil após artigo criticando o casal "garotinhos". Depois, Jorge Kajuru, tirado do ar no meio do programa e demitido da Bandeirantes, após criticar a farra dos ingressos reservados a políticos e autoridades para o jogo Brasil e Argentina, no Mineirão. Agora é a vez do cientista político Fernando Massote, cronista do jornal Estado de Minas (que se intitula "O grande jornal dos mineiros").
Fernando Massote é professor de Ciências Políticas na UFMG, e publicava suas crônicas na seção Opinião do jornal, sempre às sextas.

O fato tem pouco ou muito a ver com os narrados acima, principalmente com a demissão de Jorge Cajuru da Bandeirantes após criticar Aécio Neves. Começo a acreditar que não se pode discordar publicamente do governador Aécio Neves, sob o risco de sofrer pesadas retaliações. A exemplo de Cajuru e Dines, Massote também foi "censurado", pois seu último artigo intitulado "A última batalha de Brizola" não foi publicado pelo jornal como costumeiramente. Posteriormente, o professor foi "excluído" do quadro de colaboradores. Vejam o que disse o professor, publicado no site Pras Cabeças :

Crônica de uma noite anunciada
(A imprensa garroteada pelo Estado em Minas Gerais)

Os leitores que por anos me acompanharam às sextas-feiras, na página de opinião do Estado de Minas, foram tomados de surpresa no dia 02 de julho p. passado, quando o meu último artigo - A Última Batalha de Brizola - não foi publicado. Disseram-me que a cadeia dos Diários Associados nada queria publicar a favor de Brizola. Mas a direção do jornal não se limitou a recusar o artigo. Ela me declarou “persona non grata” depois de 23 anos de colaboração tendo, nos últimos anos, regularidade semanal e quinzenal.
O fato é que minhas relações com o Estado de Minas prosseguiam tensas - por razões políticas - desde a campanha política de 2002. O então candidato do PSDB Aécio Neves e seu staff de campanha, manifestamente, não gostavam de meus artigos. Para comprovar isto – já que nada tenho contra a pessoa do governador que não tive ainda o prazer de conhecer pessoalmente - abro aspas para publicar trecho de uma carta do Sr. Robson Damasceno dos Reis, chefe do comitê de imprensa do candidato Aécio Neves, enviada ao EM e publicada em 19.09.02.
“... artigo (do prof. Fernando Massote) da edição de 6/09/2002, então, é um primor de propaganda explicita e ofensiva contra o candidato Aécio Neves".
JK e Tancredo não teriam, absolutamente, subscrito o envio desta carta. O artigo que o Sr. Robson, a mando de Aécio Neves, incriminou nos termos acima, foi publicado no EM sob o título “Oh, Minas Gerais!”. Eis o trecho que mais provocou a ira de então candidato:
“Um candidato a governador que é apresentado como "jovem e bonito" na melhor linha do marketing comercial é o mais direto filho do passado (...) Na falta de qualquer militância política própria ele se sustenta, prodigiosamente, como se vê, como filho político do avô, Tancredo Neves!”.
Este artigo – que não teria sido publicado pelo EM depois da posse de Aécio - repercutiu nos programas de TV durante a campanha. Mas a ojeriza do governador pelos meus artigos não é, assim, tão recente.
Na noite de 15 de maio de l999, vendendo a casa que tinha em Nova Lima, a uma quadra da minha residência, o então presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves, reuniu ali centenas de convivas para uma festa que fechou o bairro. O barulho infernal dos aparelhos de som dominou o ambiente das 20h. De sábado às 9h. de domingo.
Protestei, então, pelo fato, em defesa da cidadania publicando em l9.05.1999, no EM, o artigo Viva o Barulho, em que escrevia:
“Procuraremos a justiça contra o deputado, mas a sua defesa é praticamente insuperável: ele tem imunidade parlamentar que reforça a impunidade”.
Em 25.09.03, reagindo à onda de repressão contra a liberdade de imprensa advinda do Palácio da Liberdade, publiquei – na A Gazeta (ES), no Correio da Cidadania, de Contagem e aqui, no Proposta – o artigo Paixão e Ambição, também censurado pelo EM. estabelecendo uma comparação entre o avô, Tancredo Neves e o neto.
“Não cabe, portanto, comparação entre o avô e o neto já tão divididos pela distância entre seus dois mundos. A diferença começa no palanque onde o avô se comportava como um artista e onde Aécio gosta de agir como o chefe, atento a todos os detalhes e preocupado em determinar quem deve ou não falar!... A discrepância não se limita, enfim, aos palanques. Nos últimos dias correram notícias (...) de demissão e remoção de jornalistas de órgãos da mídia. O antigo respeito pela imprensa (...) que impregnava o velho PSD liderado por Tancredo Neves parece, assim, ser considerado hoje demodée por novos políticos mais controlados pela ambição do que pela paixão”.
Na mais recente entrevista do nº 09 do jornal Proposta com o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Aloísio Lopes, foram feitas criticas ao jornal de ser subserviente, sempre, ao governador de turno. Participei da entrevista como membro do Conselho Editorial do jornal. Foi este o álibi de que a direção do Estado de Minas se utilizou para transformar-me em objeto da sua vendetta e declarar-me “persona non grata”.
Despeço-me aqui (sem poder recorrer nem mesmo à secção de cartas do EM) portanto, dos leitores do EM, depois desta dispensa abrupta, sem comunicação alguma por parte do jornal. O EM não respeita seus funcionários, seus colaboradores e seus leitores. Ele se pauta sempre pela vontade política do governador “em troca do que dele recebe”.
Nesta situação, a luta pela liberdade de imprensa deve obedecer a um planejamento político consciente, crítico e amplo para defender e ampliar os espaços de cidadania de que dispomos atualmente. Não faço, com as minhas posições inarredavelmente democráticas, catarse pessoal, politicamente irresponsável e imprevidente das reações autoritárias que deverei enfrentar. Nunca cutuquei a onça com vara curta e sempre estive preparado - intelectualmente, moralmente, politicamente e materialmente - para reagir aos atos autoritários que critico.
Esta não é, no entanto, a situação da grande maioria dos jornalistas, em um mercado de trabalho sempre mais restrito e mal remunerado. Seus patrões e governos - como o de Minas Gerais - querem mantê-los sob o império do medo. Aí está toda a importância das tomadas de posição corajosas do atual presidente do Sindicado dos Jornalistas, Aloísio Lopes. A defesa dos jornalistas contra o autoritarismo das empresas e do governo Aécio Neves se confunde com os interesses do próprio desenvolvimento democrático da sociedade.


Como podem perceber, os entreveros e desentendimentos entre o professor e o governador Aécio Neves tem uma história de longa data, que culminou com a "censura" ao artigo do professor. Realmente, o histórico de desavenças torna muito, mas muito suspeita a ação do Estado de Minas. Para quem quiser conferir, reproduzo abaixo o artigo motivador da discórdia, que pode ser lido no site do professor, juntamente com outras crônicas e artigos:

A última batalha de Brizola

As elites - udenistas e udenistizadas - viram Brizola partir com alívio. E ensaiaram, com Sarney e outros, um adeus isento, procurando enterrá-lo definitivamente, sem apelo nem sobrevida. Pura retórica e literatura decadente de velhos conservadores correndo, sempre - sem alcançá-lo nunca - atrás do trem da história! Procurando cancelar o que Brizola teve de mais característico – uma grande causa à qual sempre permaneceu fiel - Sarney o apresentou, num artigo recente, como um eterno espadachim “que não escolhe a causa e o lado quando se põe na raia”. Um herói sem causa!...

Lênin denunciou, certa vez, esta manobra, afirmando que “quando morremos, os inimigos nos transformam em santos!” Os santos são (ou foram), em geral, heróis que tiveram uma causa bem terrena, como Jesus na sua luta contra o Império Romano, mas dela foram desvinculados pela ressureição/beatificação da igreja católica que corta as amarras com os grupos sociais ou nacionais que lhe deram origem!... Instituição interclassista e cosmopolita muito ciosa de si mesma, a igreja não aceita concorrência e cancela, na história dos seus santos, as marcas das suas origens sociais e nacionais.

Foi sempre do mesmo modo que as elites udenistizadas trataram Brizola: como um herói sem outro compromisso que com o próprio temperamento exaltado e as próprias alucinações. “Já que herói importante ele é - do povo e não nosso –“ cogitavam e cogitam sempre, os conservadores, permanentemente amedrontados pela luta popular: “procuremos impingir, colar em seu rosto, um dístico historicamente desvirilizante, para ver se pega e dar-lhe uma morte definitiva: “herói sem causa”. Ou santo. Um ser sem qualquer energia histórica.

Desmentindo Sarney, a militancia brizolista, rouca pela intensa vaia ao presidente que virou as costas à promessa – de mudar o Brasil – pela qual foi eleito, demonstrou que mesmo do além, Brizola continuou e continuará a inspirar os que se apaixonam pelos destinos democráticos do Brasil. Para não prolongar a vaia, Lula não pôde permanecer no local mais do que cinco minutos!...

Brizola pôde, assim, tendo passado pelo purgatório histórico-político, partir imune, historica ou moralmente ileso, escapando e sobrevivendo, definitivamente, às tocaias e laços insidiosos com que seus inimigos sempre procuraram liquidá-lo. Derrotando as últimas manobras oligárquicas contra o líder que, parodiando a carta testamento de Getúlio, “deixava a vida para entrar na história”, o povo, entristecido ao dar-lhe o último adeus, agitava o lenço ensopado com as lágrimas de quem perdeu mais um dos seus heróis mais verdadeiros.


Jornal do Brasil, Rede Bandeirantes, Estado de Minas... onde mais?
Onde mais reina a mediocridade, o autoritarismo, a falta de liberdade? Onde mais os compromissos em criticar, informar o cidadão, fazer denúnicas, onde mais tais interesses se encontram comprometidos com a politicagem e interesses escusos?
Viviane Forrester, em seu livro "O Horror Econômico", já nos alertava, citando Malarmé, sobre o poder das palavras. Uma das primeiras providências dos regimes autoritários, totalitários, quando chegam no poder, é silenciar a voz daqueles que protestam, dos que criticam, dos que denunciam, dos que mobilizam as massas através das palavras. As palavras são, realmente, como metralhadoras.

domingo, julho 04, 2004

 

Da série "O mundo é ridículo" ou "Febeamundo"


O Noblat tem umas sacadas interessantíssimas... me redimindo (parcialmente) do que andei escrevendo sobre o Lula, vejam a notícia adiante e imaginem como nosso queridíssimo Lula iria vestido. Ganha um doce quem adivinhar:

"O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, pôs um capacete na cabeça, um martelo no cinto e apresentou uma versão de YMCA, hit dos anos 70 do grupo Village People, no encerramento de uma importante reunião sobre segurança na Ásia. A tradição pede que o encontro seja finalizado com uma noite de canto e dança, animada pelos participantes. Em 1997, a então secretária de Estado Madeleine Albright fez sua performance caracterizada como Evita Perón." (Agêcia Estado.)

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