sábado, julho 24, 2004

 

Reflexo de uma consciência (condicionada)


A respeito da minha matéria publicada no Observatório da Imprensa, recebi um email do Homero, que reproduzo abaixo:


O reflexo de uma consciência (condicionada).

Homero Mattos Jr.


Em outubro do ano passado (2003) a revista The Economist publicou uma matéria a respeito da chamada Crise do Petróleo.

Mais especificamente, sobre as previsões de esgotamento das reservas petrolíferas por volta do ano 2040.

Em meados do mês passado (maio) a revista Carta Capital retomou o tema como matéria de capa (estampando a mesma foto publicada em The Economist - uma bomba de gasolina destroçada pelo Tempo).

Esta semana (com um 'teaser' na capa n. 1857, sem fotos) foi a vez de Veja[1] .

Com a argúcia e isenção ímpar que a distingue das outras publicações citadas acima, Veja me fez saber que “por um capricho da natureza, as maiores reservas (de petróleo) estão concentradas em áreas politicamente complicadas.”

Lembrei-me então da piada sobre os ratos da experiência pauloviana que, dentro de uma caixa, ficam intrigados com o fato de lhes servirem pedaços de queijo e soar uma campanhia todas as vezes em que estão famintos.

Em seguida pensei: 'Puxa! Mas que falta de sorte, hein? (A nossa.) Se ao menos se complicassem politicamente áreas sem reservas de coisa alguma...'

Mas não. Entra década, passa década, uma hora é o Sul (ou o Centro) africano com os seus diamantes e ouro, outra hora é o Rühr (ou a Manchúria) com suas reservas de carvão...

A Natureza é mesmo caprichosa, como bem conclui o perspicaz redator da matéria.

Senão vejamos: minas, jazidas, rotas... onde quer que esteja a energia capaz de conferir poder ao Império da vez... eis aí (sempre!) uma área complicada politicamente...

Verdadeiro ‘azar’. De fato.

Que há nos deuses que não nos deixam viver tranqüilamente?

Vejamos, por exemplo, o caso do Oriente Médio: lá, árabes e judeus -durante quase 2 milênios- jamais tiveram problemas de convivência. Ao contrário.

Nem lá, nem na Espanha moura.[2]

Mas então... no caprichoso período em que o fordismo estava acabando de arregaçar as mangas -pronto a convidar, para um ‘giro’ mundo afora, as debutantes irmãs petrolíferas- ocorreu a canhestra divisão dos antigos territórios turco-otomanos no Oriente Médio de 1917... Outra falta de sorte!

E não houve sionismo que desse jeito.

Em seguida, aconteceu o que estamos a ver.

Mas não há nada a temer. Veja garante.

“...ainda não falta petróleo.” Pra quê se preocupar agora?

“...em países como os Estados Unidos, a economia está cada vez mais relacionada a serviços e menos a indústria.” O que aconteceu com a indústria!?! Para onde ela foi!?!

“No passado, o crescimento econômico era diretamente proporcional ao consumo de petróleo.” Ah tá! Isso acontecia antigamente... Hoje não.

Mas... e os serviços ? São relativos a quê?

Ora, mas que bobagem!

Ficou eu a me preocupar com argumentos que para Veja são últimos.

Tão últimos que, declarações alarmantes como a de um ex-ministro do Meio Ambiente britânico e de um ex-presidente da Exxon-Mobil, são mencionadas no final da última página, da última das três matérias sobre o tema.

Quem tiver tempo e interesse que leia. Se quiser.



"A Idade da Pedra não acabou por falta de pedras", mas por expansão da Consciência Humana.

Não sei se o autor da frase (o Sheik Yamani -antigo ministro saudita do petróleo) a isto pretendia ilustrar, precisamente.

Mas esta é a causa eficiente que encerra todas as Eras ou Idades históricas. Não há outra. Assim caminha a humanidade.

Mas até que possa prevalecer a maior consciência (ou mais inteligência) a constelar-se e a caracterizar o período histórico seguinte, esta nova mentalidade deverá impor-se sobre a menor consciência (ou menos inteligência) vigente no período anterior.



Seguindo sem saber a máxima do controvertido Saulo de Tarso (‘quando era criança raciocinava como criança, quando cheguei a ser homem, deixei as coisas de criança agora inúteis.’[3]) parei de ler Veja.

Já há muito tempo.

Porém...

Embora no limiar, nós não estamos, propriamente, em uma nova Era.

E Veja, encontra-se em toda parte.

Ainda.


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[1] em 9 de junho de 2004 edição 1857 ano 37 n.23 p. 116-126

[2] "Os muçulmanos da Espanha deram aos judeus o melhor lar que eles jamais tiveram durante a diáspora, de tal modo que a expulsão dos judeus da Espanha (em 1492) foi pranteada pelos judeus de todas as partes do mundo, como o maior desastre ocorrido a seu povo desde a destruição ( pelos romanos) do Templo no ano 70." in Armstrong, Karen ‘A History of God - from Abraham to the Present: the 4000-year Quest for God’ p. 297 1a.ed. Mandarin Paperbacks London 1994

[3] in São Paulo, Primeira Epístola aos Coríntios cap.13, v.11-12 p.1365 Bíblia ed. Vozes, Petrópolis 13a. edição 1982



Koyaanisqatsi

http://homeromattosjr.blogspot.com


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