quinta-feira, dezembro 30, 2004

 

Feliz 2005



Neste fim de ano tão tumultuado, com tantas tragédias acontecendo, é natural ficarmos um pouco pessimistas em relação ao ano que está chegando. Normal. Além das tragédias naturais que andam acontecendo (terremotos, maremotos, tsunamis) e sobre as quais falarei no próximo post, e outras nem tão naturais assim (guerras, genocídios, assassinatos, barbárie), temos a violência de todo-dia, que bate à nossa porta cotidianamente, caindo sobre nossas mulheres, crianças e amigos. Difícil esperar que 2005 seja melhor, ainda mais quando sabemos que tais coisas continuarão acontecendo.

Mas nada adianta sermos pessimistas, ao menos hoje. Ao menos hoje, me permitirei ser um pouco mais otimista, e pensar que em 2005 as coisas vão ser um pouco diferentes, vão ser um pouco melhores. Até porque, se piorar, não sei bem onde vamos parar.

A todos vocês, amigos, um Feliz 2005!!! Que ano que vem seja bem melhor que este, para todos vocês!!!

quarta-feira, dezembro 29, 2004

 

Quem entende?


Durante muito tempo, os lojistas da área central de Belo Horizonte protestaram contra a concorrência dos camelôs, que "roubavam" seus clientes nas portas das lojas. Quem ia entrar numa loja, não entrava, comprava a mercadoria em um camelô situado em frente da mesma. Pois bem. Tanto reclamaram e pressionaram, que a CDL-BH (Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte) conseguiu que a Prefeitura desse um jeito na situação. Como parte das reformas planejadas no hipercentro de Belo Horizonte, estava previsto no Código de Posturas do município a retirada dos camelôs das ruas. Locais foram destinados para receber os mesmos (os "shoppings populares"), e os prazos rigorosamente cumpridos, apesar de toda a reclamção dos camelôs, que sendo a parte mais interessada nesse deslocamento, foi a menos ouvida.
De começo duvidoso, os tais "shoppings populares" se tornaram um sucesso junto ao público, que agora dispõe de maior oferta de produtos, segurança, comodidade e bons preços. Claro, exiwtm problemas graves, como mercadorias contrabandeadas, mas nada que a Prefeitura não possa resolver rapidamente se quiser. Pra citar apenas dois, o "Shopping Oiapoque" (apelidado de shopping Oi) e o "shopping Tupinambás" se tornaram o destino preferido da população, sobretudo de baixa renda, que se destina ao hipercentro de BH para fazer suas compras. Tudo muito certo, tudo muito bom.
Agora, o jornal Estado de Minas acaba de publicar uma reportagem (28/12) onde os lojistas reclamam que as vendas ficaram um pouco abaixo do esperado, mesmo sendo ligeiramente superiores ao ano passado. E, claro, em cima de quem jogam a culpa pelos "prejuízos"? Bingo! A culpa é da concorrência dos camelôs, situados agora nos shoppings populares, como tanto queriam os lojistas da região. Fiquei pensando qual será o próximo passo... para onde vão querer mandar os camelôs agora?

sábado, dezembro 25, 2004

 

Natal


Tem gente que acredita em Papai Noel. Tem gente que não acredita.
Tem gente que acredita em Deus. Tem gente que não acredita.
Tem gente que, não acreditando, não gosta que lhe desejem Feliz Natal. Tem gente que não liga.
Tem gente que luta por um mundo melhor. Tem gente que luta apenas para que "seu" mundo melhore.
Tem gente que quer ter filhos. Tem gente que não suporta a idéia.
Ninguém está certo. Ninguém está errado.

Gostei do que disse o Rafael. A idéia que o Natal inspira, de que alguém foi capaz de dar sua vida por amor ao próximo, é preciosa demais para ser perdida. Isso é o que eu penso, claro. Pensem diferente. Apenas respeitem minhas idéias. O Rafa disse que acreditar talvez seja a coisa mais importante desse mundo. Pode ser. Mas tem gente que não acredita. Aliás, tem gente que não acredita nem em si mesmo, quanto mais em alguma coisa exterior a ele. Da mesma maneira, aqueles que acreditam apenas em si mesmos, não tem tempo de levantar a cabeça e olhar qualquer coisa que lhe seja exterior, estando muito ocupados com o próprio umbigo.

Ainda sobre o Natal, a Cinthia disse algumas coisas muito interessantes, e concordo com ela. E hoje, mais uma vez, a magia do Natal se fez presente na minha vida. Difícil descrever a alegria de Julia, minha filha, ao ver seus presentes perto da árvore. Olhinhos brilhando, boquinha aberta, mãozinhas entrelaçadas... Só isso já valia comemorar o Natal. Ah, e por favor, não me venham com aquele discurso demagógico de "consumismo". Além dos presentes, minha filha sempre foi informada do que representa o Natal, o que se comemora, qual a sua importância. Ela acreditar ou não, isso já não é comigo. Vai depender dela, quando tiver idade suficiente pra isso.

Não quero convencer ninguém a acreditar em nada. Mesmo porquê, não tenho certeza de nada... Cada um acredita no que lhe convém.
Apenas tenho a leve impressão de que, acreditando, as coisas por aqui seriam mais fáceis. Mas é só uma impressão.

Para os que acreditam, e para aqueles que não acreditam também; para os amigos, reais e virtuais; para aqueles que estão sempre por aqui, para aqueles que aparecem de vez em quando:

                                                FELIZ NATAL!


quarta-feira, dezembro 22, 2004

 

Podem acreditar


O rapaz se chama Reginaldo. Mora nas ruas de Belo Horizonte. Sempre encontro com ele quando estou chegando no trabalho. Sempre me espera, e ocasionalmente, sempre lhe dou alguma coisa... algumas moedas, vale-tranportes, o pouco que geralmente trago no bolso.
Ultimamente, andou meio sumido. Vi-o novamente por estes dias. perguntei o que havia acontecido: "Tava em cana. Rodei. Armaram pra mim." Disse que agora tem que ficar esperto, pois acabou de completar 18 anos, se "cair" na cadeia novamente não vai sair tão cedo. Dei alguns conselhos, trocamos algumas idéias.
Ontem, quando estava chegando aqui, ele veio ver se eu tinha alguma coisa para ele. Verifiquei os bolsos, nada encontrei. Apenas algumas moedas, não mais que 50 centavos. Meio sem jeito, expliquei que nada tinha naquele dia, apenas aquelas moedas, a situação estava ruim, nem dinheiro para ir embora no final do expediente eu tinha. Me olhou atentamente. Enfiou a mão no bolso. Tirou de lá um vale-transporte, dizendo: "Pega aí, maluco... eu seguro a onda, você me dá uma força todo dia. Uma mão lava a outra!..."
Claro, não aceitei... mas pouca coisa me deixou tão surpreso e intrigado...

segunda-feira, dezembro 20, 2004

 

Sou Atleticano, e não desisto nunca (II)


Como era previsto, mais de 50.000 fanáticos foram ao Mineirão na tarde de ontem (números oficiais, sempre absurdos, falam em 47.000 pagantes). Entre eles, o bobo aqui. A torcida do "Galo" é fantástica. Surpreende a cada dia. Além de estabelecer o recorde de público do campeonato brasileiro, os loucos que foram ao estádio não pararam um só minuto de incentivar, gritar e cantar o hino do time. Quem não soubesse e visse aquela cena, ia pensar que se tratava da final do brasileirão. Só tem uma palavra que define a "Massa": show!
Além de dar um espetáculo a parte, a torcida do Galo foi extremamente elegante e inteligente: em nenhum momento hostilizou os jogadores do time adversário. Pelo contrário, não faltaram aplausos e homenagens da torcida ao jogador Serginho, falecido recentemente dentro do campo de futebol. O jogador Euller foi ovacionado pela torcida do Atlético, e deixou o campo de jogo profundamente emocionado.
Os gritos da "Massa" para seus jogadores fizeram com que até mesmo aqueles mais apáticos, mais apagados, corressem como nunca. Se faltou técnica, futebol, sobrou disposição.
Tudo isso foi o suficiente para uma vitória de 3 x 0, que livrou o Atlético Mineiro do vergonhoso rebaixamento para a Segunda Divisão do campeonato brasileiro.
Incrível como a torcida do Galo se contenta com pouco... depois do terceiro gol, olhei para o lado e vi pessoas chorando, se abraçando, felizes, mesmo com tão pouco, mesmo com o time disputando uma vaga para permanecer na primeira divisão. Se fosse uma disputa de título, então...
Uma torcida dessas, com um time melhorzinho... aí ninguém segura a gente...


domingo, dezembro 19, 2004

 

Sou Atleticano, e não desisto nunca


Pois é. Hoje vou ao Mineirão. Eu e pelo visto, no mínimo mais 50.000 pessoas. Fanáticos.
Um time igual ao Atlético Mineiro, carinhosamente chamado de "Galo", que tem uma torcida fanática como essa, merecia melhor sorte. Sorte não. Devia ser mais competente. Aliás, uma torcida igual a que o "Galo" tem, merecia melhor time.
Os atleticanos são muito diferentes dos cruzeirenses, acostumados a ir ao estádio para ver grandes disputas, finais, títulos. Quando a maré está ruim, abandonam o time, somem do campo.

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Pense numa torcida fanática. Qualquer uma. A do Corínthians? Somos mais. Primeiro, nosso jejum de títulos é maior (não estou falando do mineiro, somos os maiores vencedores, mas esse não conta mais). Campeão brasileiro de 71. E depois? Falo de títulos de verdade. Mas nem isso serve para nos afastar do campo. Basta uma vitoriazinha, uma sequenciazinha mais ou menos, e estamos todos lá, lotando o Mineirão como de costume. "Fiel"? Não chega perto. Mas aí temos um ponto em comum. A torcida do Corínthians é a "Fiel". Nós, torcedores do "Galo", somos a "Massa". Nenhuma outra torcida no Brasil tem nome próprio, identidade própria, exceto a "Fiel" e a "Massa".
Hoje, vamos cumprir nossa sina. Vamos lotar o Mineirão, como sempre. Torcer como nunca, gritar, xingar e rezar para que o "Galo" vença o São Caetano. Ou mesmo que perca, ainda dê a sorte de se manter na primeira divisão. Tinha prometido pra mim mesmo que não ia pro estádio ajudar esse time sem-vergonha. Não tem jeito. Sou muito mais sem-vergonha do que ele.


quinta-feira, dezembro 16, 2004

 

Millau


Podem acreditar, é uma ponte. A mais alta do mundo. E se chama Millau.
Localizada no sul da França, tem 343 metros de altura.

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A imagem é tão linda que fico a pensar: é mesmo de verdade?


segunda-feira, dezembro 13, 2004

 

Pinóquio e o Déficit Zero

Recentemente, o governo de Minas divulgou em todos os grandes jornais mineiros e brasileiros, o tão almejado "déficit zero" no Estado. No jornal "Estado de Minas" (que se transformou em um editorial do governo) a matéria teve grande destaque, com aplausos e ovações ao governo mineiro.
Documento recente, assinado por diversas entidades sindicais mineiras e pelo bloco do PT/PCdoB da Assembléia de Minas, mostra que as coisas não são como parecem, ou como querem nos fazer acreditar o sr. Aécio Neves e o "Estado de Minas".
Detalhes que fizeram a diferença e contribuíram para o "déficit zero": 0% de aumento salarial de professores e servidores, nenhum centavo de investimento nas estradas de Minas (estradas não, buracos disfarçados de estrada), zero de investimento na recuperação das bacias hidrográficas do Estado, 25 mil reais investidos na revitalização do rio São Francisco (eram previstos 10 milhões de reais), investimento insuficiente na UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais) e na FAPEMIG (pesquisa).
Assim fica fácil alardear o déficit zero, escondendo um monte de coisas embaixo do tapete. Enquanto isso, mais de 35 milhões de reais já foram gastos em propaganda, como agora em nível nacional.
Em Minas, jornalistas e veículos de imprensa são "censurados" pelo governo Aécio, que pressiona e "pune" jornalistas que mostram as falhas do governo. Recentemente, como já havia sido denunciado aqui, o professor e jornalista do "Estado de Minas" Fernando Massote teve sua coluna semanal suspensa e foi posteriormente desligado do jornal. Motivo: críticas sistemáticas ao governo Aécio Neves.
Tradução de déficit zero em Minas: salários congelados, falta de investimentos em infra-estrutura, educação e pesquisa, meio ambiente abandonado. Assim fica fácil.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

 

Virtual e Real


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terça-feira, dezembro 07, 2004

 

Reminiscências


Em Pirapora, morávamos na mesma rua. Crescemos juntos.
Sempre se destacou pela agilidade nas brincadeiras. Ninguém conseguia alcançá-lo, sempre correu mais do que os outros. Nem mesmo seus irmãos, que também corriam mais do que os outros.

No futebol, quem jogasse ao seu lado invariavelmente saía vencedor. E sem ter muito trabalho. Fominha, não passava a bola para ninguém; dava piques enormes, roubava a bola do adversário e a mantinha junto aos pés como se fosse através de um barbante. Quando jogava a pelota para a frente, em busca do gol, vencia facilmente qualquer um na corrida e marcava muitos, muitos gols. Tinha futuro. Mas não queria ser jogador. Aliás, não sabia direito o que queria. Não gostava de estudar, pouco trabalhava.

Quando vim para BH, pouco tempo depois fiquei sabendo que também morava por aqui. Notícias diziam que ele trabalhava em um hospital, morava no Santa Tereza. Fui fazer visita, quem sabe podíamos dividir um apartamento, a grana esta curta na época. Saí de lá estarrecido com o local em que ele morava. Um prédio esquisito, habitado por muita gente estranha. Um "cortiço" moderno. Depois vim saber que o prédio havia sido invadido.

Perdi o contato com ele, não dava mais notícias. Em Pirapora, a família só sabia que ainda estava em Belo Horizonte, também não tinham mais notícias.
Só depois vim saber o que aconteceu.

Epilético, era incapaz de tomar seus remédios como deveria. Não ligava para isso. Tinha tanta revolta dentro de si, que esta se voltava contra ele mesmo. Como se não bastasse, havia se entregue ao álcool. A mistura da doença com o álcool acelerou ainda mais seu processo de degradação.
Morreu sozinho, numa praça qualquer de BH, sem família, sem amigos. Não queria mais ninguém por perto. Quase foi enterrado como indigente.

"Que a terra lhe seja leve"...

 

Sem título


Dando continuidade ao momento "copiar e colar", uma excelente poesia, segundo as próprias palavras da autora:

ah, meu Brasil varonil!
esplendoroso como nunca se viu!
terra criativa
onde canta o sabiá
terra em que plantando
tudo, tudo, tudo dá!
terra das mulheres
de peitos siliconados gostosos
como alhures, ah, não há!
terra encantadora
dos Homens e Hoportunidades com agá!
ah, meu Brasil varonil!
vamos todos para a puta que pariu!

segunda-feira, dezembro 06, 2004

 

A Banda


Um brinde aos anônimos, com este texto que recebi por email:


A Banda
(letra atualizada)


Estava puto da vida
Quando o PT me chamou
Pra ver a coisa mudar
Com Lula paz e amor
A minha gente sofrida
Então no Lula votou
Pra ver a coisa mudar
Cantando coisas de amor
O empresário que já tava quebrando votou
O operário que nem tava jantando votou
A estudantada que não tinha escola votou
Para ver, ouvir e dar passagem
O camponês há muito tempo calado sorriu
O nordestino que já tinha murchado se abriu
E a igrejada toda se assanhou
Pra ver o Lula mudar
O que Fernando estragou
O aposentado se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A professora debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A arenga velha se espalhou na avenida e insistiu
A militante que vivia escondida surgiu
A minha pátria toda se enfeitou
Pra ver o Lula mudar o que Fernando deixou
Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo ficou no lugar
Depois que o Lula chegou
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois do Lula chegar
Cantando coisas de amor.


sexta-feira, dezembro 03, 2004

 

Sudão, Chechênia, Iraque...


A questão chechena, os acontecimentos no Sudão, Afeganistão ou Iraque não transcendem a retrospectiva dos fatos históricos. Pelo contrário, a correta compreensão de tais fatos é que nos permite perceber, com riqueza de detalhes, o desenrolar dos acontecimentos e sua análise. Sem tal retrospectiva histórica, qualquer pretensão de análise geopolítica está fadada ao fracasso.

Generalizações de qualquer tipo, como "Todos (...) se calaram com o genocídio russo contra os chechenos", por exemplo, não condizem com a realidade, além de deixar a impressão que nosso senso crítico seja caolho, enxergando apenas um lado da questão. Fico preocupado e indignado com as coisas que acontecem. Tanto norte-americanos quanto russos entendem perfeitamente o que ocorreu. Não sejamos tão tolos e ingênuos ao ponto de pensar o contrário. Novamente, generalizações não ajudam em nada.

Na época do 11 de Setembro, vários intelectuais e vozes importantes da América se levantaram para condenar a sua política externa, vendo imediatamente nos atentados uma resposta a tal política. Se isso não acontece de imediato na Rússia, é justamente porque lá também (como para alguns, por aqui), as "palavras" não são bem vindas, pois conhecem a força que elas têm.

Claro, "flores" não seriam uma resposta à altura. mesmo porquê "bichos" desconhecem a sua beleza e o que representam. Numa luta entre "bichos", só podemos esperar atos de barbárie de ambos os lados. Não se trata realmente de justificar nada, porque nada justificaria mesmo. Com certeza, nem citações bíblicas nem meras "palavras" resolverão a questão do terrorismo e da violencia. Até porque, quem pratica tais atos, não se sensibiliza com vidas humanas, quanto mais com meras "palavras".

Ninguém está negando a verdade a ninguém. Pelo contrário, estamos tentando desvendá-la. Como professor, é o que tento mostrar aos meus alunos, explicando a eles as possíveis causas de tais atos. Aí novamente, a "retrospectiva histórica" e a "reprodução de notícias" é uma valiosa ferramenta. "Ferramenta", vou frisar novamente para aqueles que insistem em não compreender o que digo.

Transcender o senso comum. Necessário. Para isso, nada melhor do que as tais "palavras". Daqui de onde estou, é o que posso fazer. É a minha contribuição. Ainda não perdi a capacidade de me indignar, de me revoltar contra tanta estupidez. Não costumo analisar apenas um lado dos fatos, porque sempre existe o outro lado. Não me furto ao estudo ou pesquisa da origem das coisas (olhem, novamente, a necessidade da retrospectiva histórica...)

Finalmente, é das "palavras" que vivo. Por isso tenho a elas tanto apreço e consideração. Seja escrevendo, lendo ou falando, minha vida são as palavras. São minha ferramenta. Infelizmente, talvez isso seja difícil de compreender para alguns que, mesmo criticando, também delas costuma fazer bom uso. Não nos percamos em análises simplistas e superficiais. Não percamos nossa capacidade de indignação. Não olhemos os algozes como vítimas... muito menos as vítimas como algozes. Saibamos separar o joio do trigo.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

 

Onde fica o Sudão


Ultimamente, muito se tem falado do Iraque. É o centro das atenções no cenário internacional. O Afeganistão ficou para trás, quase esquecido.
Vez ou outra, o noticiário internacional se volta para a Palestina. De lá vemos cenas de homens-bomba (do que sobrou deles), atentados e outras barbaridades. As cenas da garota palestina assassinada, do músico palestino humilhado e outras semelhantes não chegam a nós. A história vem sendo contada apenas por um lado, tanto no Iraque quanto na Palestina. Mas isso é outro assunto, para outro post. Chega de divagações.
De volta ao começo, pouca coisa se vê no noticiário internacional sobre o Sudão. Não sabemos sequer onde fica o Sudão. Um dos maiores países da África (se não me engano, o maior), foi incorporado pelo Egito no século XIX e dominado pelos britânicos no final do mesmo século. Antes disso, por volta do século VI, o país havia sido convertido por missionários cristãos, sendo subjugado posteriormente por forças islâmicas por volta dos séculos XIII e XIV. Só conquistou sua independência em 1956. Na fronteira entre a África sub-saariana e o norte africano, tendo ao norte o deserto da Namíbia e ao sul as florestas tropicais, o país está em guerra civil há quase 50 anos. Disputam o poder o governo muçulmano (religião que representa cerca de 70% da população), de um lado, contra guerrilheiros (ou rebeldes, como é moda) cristãos (cerca de 20% da população), apoiados pelos animistas (algo em torno de 10% da população). Após breve período de "paz", a atual fase da guerra civil se iniciou após a tomada do poder por fundamentalistas islâmicos, que tomaram o poder e estabeleceram a sharia1 em todo o território. Os cristãos, que habitavam o sul do país, ao verem suas reclamações ignoradas, partiram para o conflito armado. Milícias árabes promoveram recentemente um verdadeiro massacre na província de Darfur, na região oeste do país, onde os números de vítimas oscilam entre 30 e 100 mil, segundo cálculos mais pessimistas. Os refugiados em países vizinhos já passam de 1 milhão de pessoas.
O mundo não está interessado nisso. O Sudão é um dos países mais pobres da África. Questões geopolíticas e econômicas, presentes no Afeganistão e no Iraque, estão ausentes no Sudão. Pode ser uma explicação. O show de mísseis, blindados, aviões e soldados norte-americanos está longe do Sudão. Outra explicação.
Mas a verdade mesmo, é que ninguém parou ou vai parar pra pensar no Sudão. Nem na África. Eles que se virem. Eles que se matem. Qualquer tentativa de explicar a parcela de culpa dos países europeus nas guerras sem-fim que assolam vários países africanos é taxada rapidamente de "blá-blá-blá marxista". E fim de papo. Aliás, são seres humanos, aqueles ali? Merecem ajuda? Merecem atenção? "Ah, os africanos que se virem..."
Nós, da república-das-bananas, não podemos fazer nada. Talvez. Mas o que fazemos então? Pregamos um combate à fome mundial, quando somos incapazes de matar a fome daqueles que estão aqui, tão próximos de nós?
É fácil voltar as costas para o mundo, para o outro. É muito fácil por as mãos no bolso, ao invés de estendê-las.
A indiferença é o maior dos pecados.

1 - doutrina dos direitos e deveres religiosos do islã. Abrange as obrigações cultuais (orações, jejuns, esmolas, peregrinações), as normas éticas, bem como os preceitos fundamentais para todas as áreas da vida (matrimônio, herança, propriedade e bens, economia e segurança interna e externa da sociedade). Originou-se entre os séculos VII e X d.C. a partir dos trabalhos de sistematização realizados por eruditos e legisladores islâmicos e baseia-se no Corão, suplementado pela Suna, a descrição dos atos normativos do profeta Maomé.

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