quinta-feira, outubro 28, 2004

 

Trabalho, renda e educação


O Alexandre, do LLL, um dia destes postou alguma coisa sobre os resultados de uma pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), realizada por Marcelo Medeiros, economista do IPEA.
O artigo citado pelo Alexandre é de Rafael Cariello, e foi publicado na Folha de domingo. Destaco apenas algumas partes:

"As diferenças de escolaridade não explicam a desigualdade social e econômica do país.
Os ricos são ricos não porque puderam estudar mais -ou porque são brancos, homens e moram no Sudeste, embora tudo isso ajude-, mas principalmente por causa da "herança" que recebem de seus pais também ricos (que pode ser a oportunidade de ter uma educação de elite, de terem crédito, de terem uma rede de relações pessoais com outras pessoas também ricas que lhes garanta bons empregos ou, simples, herança financeira mesmo).
No fundo, esse estudo é sobre mobilidade social no Brasil." No fundo, esse estudo é sobre aquilo que -quase- não há."

Achei o artigo citado meio estranho, e na dúvida, procurei o site do IPEA, e baixei o trabalho do Marcelo Medeiros na íntegra. Foram utilizados no trabalho, os dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) de 1997,1998 1999.
Algumas considerações:

Primeiro, realizar um trabalho, como fez o economista, definindo como "ricos" aqueles que possuem renda superior a R$ 2.170 reais é uma temeridade. Se for assim, como disse o Alexandre, o país tem muito mais ricos do que se imagina.

Segundo, o articulista da Folha, Rafael Cariello, parece não ter lido o trabalho na íntegra ou não ter compreendido alguma coisa. O trabalho do economista não vincula necessariamente educação com riqueza. Nem é desta maneira que acontece. O que se conclui, ao ler o tabalho, é que nem a educação, nem características como raça, sexo ou região, são suficientes para explicar o nível de rendimento da classe mais rica. Entra em cena o que o pesquisador chamou de "atributos não-produtivos", e aí sim poderíamos relacionar o círculo de amizades e contatos, questões como herança, entre outras coisas. Mas não podemos colocar o carro na frente dos bois, como fez a "Folha", e chegar a conclusões que o trabalho não chegou.

Em terceiro lugar, qual é afinal, o objetivo do artigo do economista do IPEA? O que pretendia o sr. Marcelo Medeiros com tal trabalho?
Partindo de critérios questionáveis, dizer que uma educação de qualidade não deixa ninguém rico? Ora, isto realmente todo mundo sabe, não tinha necessidade do IPEA gastar tempo e dinheiro tentando demonstrar. Para os que não desejam se tornar milionários, o próprio trabalho traz em si dados interessantes: 1 ano de estudo representa 18% a mais no rendimento médio do cidadão, e 15 anos representariam, portanto, 754%. Se levarmos em conta que o limite de pobreza estabelecido na pesquisa é de R$ 80,97 per capita mensais, já seria um salto enorme de qualidade.
Aliás, o próprio título do trabalho é: "As oportunidades de ser rico por meio do trabalho estão abertas a todos". Não está em jogo aqui a educação, mas é pior ainda: ficar rico trabalhando? Quem? Quando? Onde?
Se quiserem ficar ricos, ouçam bem: não percam tempo trabalhando. Nada disso. Montem uma banda de Axé, um grupo de pagode, sejam jogadores de futebol (craques, claro). Mas esqueçam esse negócio de trabalhar.
Mas estudem. Ainda que não muito, estudem. Se não conseguirem ficar ricos, podem um dia trabalhar no IPEA, fazendo pesquisas sobre o "óbvio ululante". É uma boa, como podem ver.

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