sexta-feira, novembro 19, 2004

 

Fundamentalistas, aonde estão?


Tem circulado pela internet uma versão muito interessante, do que seria (ou pode vir a ser) um novo mapa norte-americano. Peguei emprestado uma cópia no blog do Mauro:

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Claro, levei na brincadeira. Mas como toda brincadeira tem um fundo de verdade...

Existe algo de podre, cheirando mal, e não é no reino da Dinamarca. O Homero também tocou no assunto, ainda que trazendo uma abordagem diferente, inclusive com um trecho interessantíssimo de um artigo do Contardo Calligaris, da Folha de São Paulo do dia 04 de Novembro. Vejamos alguns trechos:

... sobretudo nos últimos dez anos, nos EUA, acontece algo diferente. No centro do país, longe das grandes áreas urbanas, concentra-se um exército de derrotados. São fazendeiros empobrecidos ou expropriados, vítimas do fim dos subsídios agrícolas ou da concentração da agroindústria. São trabalhadores desempregados, vítimas da "liberdade" globalizada dos mercados, pois as indústrias migraram para países complacentes ou importaram ilegalmente uma mão-de-obra barata e não sindicalizada. Esse exército, em grande parte, vota hoje no Partido Republicano. Ou seja, vota a favor do agravamento das mesmas políticas econômicas que produziram sua decadência. Por quê?"...

O próprio Contardo Calligaris nos responde, mais adiante:

"Votam assim porque atribuem o fim de seu mundo não às medidas econômicas que os golpearam, mas, por exemplo, à prática do aborto, à crise da família, às uniões civis entre homossexuais ou ao desrespeito pela suposta vontade de Deus. Na história recente do Ocidente, os fascismos clássicos fornecem os melhores exemplos de uma façanha comparável, pela qual os derrotados foram transformados em milícias do conservadorismo ideológico e, portanto, em cúmplices de sua própria ruína."...

Realmente, precisamos prestar mais atenção ao que acontece nos EUA, como alerta o articulista acima. E urgente. Eu mesmo já tinha abordado o assunto anteriormente aqui, a respeito desse "conservadorismo religioso" no interior dos EUA, e o tema se repete novamente blogs e outras mídias afora.
Ainda a respeito do assunto, Fernando Brant publicou um artigo no Estado de Minas do dia 10 de Novembro, onde destaca uma fala muito interessante, do ministro da Justiça do governo Bush:

..."entre as nações, os Estados Unidos são a única que compreendeu que a fonte de seu caráter não é de ordem cívica e temporal, mas de ordem divina e eterna. E, como reconhecemos que nossa fonte é eterna, os Estados Unidos se tornaram uma nação à parte. Nosso único rei é Jesus". (os grifos são meus)

Sintomático, não? A mistura entre religião e política, todos sabemos, não costuma render bons frutos, vide Irã, Afeganistão, Iraque...
Os EUA, para mim, nunca foram um país sério, por vários motivos: sistema eleitoral complicadíssimo e sujeito a manipulações, essa ode ao consumismo excessivo, essa presença ostensiva em todos os cantos do mundo, essa mania de querer controlar tudo e todos, a pose de liberal contrastando com um sem-fim de medidas protecionistas, essa mania de achar que sabem o que é bom para o mundo, e agora, esse fundamentalismo religioso que aos poucos vai se revelando.
É o país dos paradoxos. Realmente não deve ser nada fácil amar Cristo aos domingos e encarar o vale-tudo pelo dinheiro durante o restante da semana.

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