domingo, novembro 21, 2004

 

Morte de Celso Furtado


Ia postar sobre outra coisa aqui, mas diante dos fatos, presto uma singela homenagem a um grande homem. Por vezes equivocado em suas suposições, jamais deixou de se manifestar sobre qualquer assunto de seu interesse e expor suas opiniões. Longe de ser uma unanimidade, era um homem de valor. Cristovam Buarque escreveu, a seu respeito, um artigo especial para o blog do Noblat:

"Recentemente, em um encontro em Alexandria, ouvi de um professor egípcio a pergunta: por que, nos anos 70, ele recebia luzes do Brasil, como de Celso Furtado, e no começo do século XXI não recebe qualquer nova idéia saída daqui? Lembrei disso ao ser informado esta manhã da morte de Celso. Ela representa um empobrecimento para a inteligência brasileira.
Poucos brasileiros deram tamanha contribuição ao pensamento mundial quanto Celso Furtado. E a grande lição para nossos professores e intelectuais é que ele não contribuiu traduzindo idéias estranhas, mas formulando as suas próprias, daqui de dentro.
Esta talvez seja a resposta que o professor egípcio queria: os intelectuais brasileiros deixaram de contribuir para o pensamento mundial, porque ficaram prisioneiros de textos importados ao se submeterem na obtenção de seus doutorados. Deixaram de pensar o Brasil pelo Brasil. Passaram no máximo a interpretar o Brasil com olhos de estrangeiros.
A segunda lembrança é de que ele formou uma geração, porque escreveu para que todos pudessem ler e com isso terminou traduzido no exterior. Os intelectuais brasileiros de hoje escrevem de maneira que só os iniciados em suas profissões entendem, porque escrevem pensando no público externo e este público não precisa ouvir aqui cópia do que eles pensam e escrevem por lá.
Celso Furtado foi um exemplo da teoria ligada ao compromisso prático da política. Isto enriqueceu seu pensamento, no lugar de aprisiona-lo, porque ele fez isso com coerência. Coisa rara em profissionais que entram na política e terminam perdendo, nos meandros do poder, a coerência intelectual.
Celso Furtado, ao morrer, deixa mais pobre a inteligência brasileira, mas deixa um país mais rico por sua obra e por tudo o que fez por nosso desenvolvimento, por sua colaboração à nossa ética e pelo exemplo de seriedade e coerência.
"

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