sexta-feira, setembro 10, 2004

 

Educação e desigualdades


Dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), de 2003, revelam dados preocupantes sobre a situação das crianças da 4ª série. Em Leitura, 55% das crianças se enquadravam nos níveis crítico e muito crítico, incapacitadas de compreender textos curtos e simples. Em Matemática, 52% das crianças se encontravam no mesmo nível, incapacitadas de resolver problemas simples.
Graças à nossas profundas desigualdades regionais, no Nordeste o total dos níveis crítico e muito crítico soma 75% em Leitura e 69% em Matemática, enquanto que no Sudeste os números chegam a 44% e 39%, respectivamente.
Números como estes são realmente assustadores. Mais assustador ainda é verificar que, "coincidentemente", nas regiões mais pobres, com menor nível de renda, estão os piores números. A aliança entre condições de vida ruim, educação de má qualidade e baixa renda per capita, torna-se um círculo vicioso.

Triste ver a situação da educação em nosso país. Privilegia-se a quantidade, em detrimento da qualidade. E ainda falam em "salto para o futuro"... Balela.

O Antônio Carlos que escreve esse texto é muito diferente da pessoa de alguns anos atrás. O Antônio Carlos de hoje é graduado em Geografia, mora em Belo Horizonte, tem casa própria, é professor, pai, gosta de livros, frequenta cinemas, teatros, restaurantes. Uma vida razoável, de muito trabalho e alguma diversão.
O Antônio Carlos da minha infância não tinha muitas perspectivas. Morava no interior (norte de Minas), vivia sem conforto, teve que começar a trabalhar muito novo, o trabalho do pai mal dava para o sustento da família. Não era uma vida muito fácil.
Ainda não é. Mas as mudanças que aconteceram, devo, sobretudo, à educação que tive. Boas escolas (públicas), bons professores, fizeram com que as oportunidades fossem aparecendo. Claro que minha dedicação aos estudos também foi fundamental. Mas graças a educação, tive como sair da minha cidade e vir para a capital, passei em concursos públicos, fui aprovado no vestibular. A educação mudou (e está mudando) a minha vida.

Por isso, em matéria de educação, não basta quantidade. É preciso qualidade. Qualidade para dar uma oportunidade a muitos que ainda não tiveram. Educação, para que nossas crianças do Sul, Sudeste, Norte, Nordeste e Centro-Oeste, possam não apenas somar ou subtrair, mas resolver problemas (simples e complexos). Para que não apenas leiam, mas compreendam. E compreendendo, mudem alguma coisa.
A educação, sozinha, não irá resolver tudo. Não eliminará as desigualdades deste país. Mas sem ela, qualquer tentativa de mudança se torna inviável.

Comments: Postar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?